terça-feira, 9 de setembro de 2014

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

sou um viajante dos mais estranhos...

sou um viajante dos mais estranhos. enquanto eles tomam o café da manhã, eu ainda estou acordando. enquanto penso no que fazer, eles já têm muitas idéias em mente. enquanto me desperto na velocidade do tempo, eles querem engoli-lo com a voracidade que o dinheiro permite. enquanto turisto, eles devastam guias. enquanto compro, eles voltam pra casa. quando abro a primeira cerveja, não há nada que os segure em programar o amanhã. enquanto sonho, eles planejam. enquanto tomo um café em silêncio, eles carregam a bateria da câmera. enquanto conto, eles querem ouvir. enquanto (me) faço, eles dizem que queriam o mesmo. enquanto escrevo, todos querem ler. tem vezes, sou eles também. compro, planejo, fotografo. a diferença é que aceito o meu tempo, bom ou mal, e me deixo sentir o mundo da maneira que eu quero. sou turista e viajante, sou um louco como outro qualquer, mas acho que me permito um pouco mais o não fazer. e é impressionante como todo mundo quer que você faça algo o tempo todo. hoje, eu só quero ser. e amanhã também.

de volta à Paris

anoitece e o vento sopra em paris. amanhece, e o céu azul carregado de um suave frio bate à janela me convidando a sair. ontem, quando já escurecia no jardim de luxemburgo, nunca me senti tão confortável à escolha do não fazer nada. blusas, já não tenho tantas. gana de explorar, tampouco. a minha viagem é sentir. pessoas, lugares, emoções. nada está solto por aí apenas para ser visto. e sentir esse ar de paris de novo, da mesma cidade que há anos me convidou para o velho mundo pela primeira vez, da única que escolhi para a parede da minha casa, tem algo de extrema importância para fechar essa parte do processo. 

em dois dias, parto para casa de novo, na certeza de que a próxima língua - depois de um inglês mais ou menos, um portunhol pra lá de estranho e um português que cada vez mais me desacostumo - será o francês. vou voltar aqui para viver um dia, tenho certeza, mesmo que apenas pra dizer algo mais ou menos como bonjour e tentar entender o que vem depois.

domingo, 10 de agosto de 2014

a Barcelona que me encanta

a Barcelona que me encanta não é a mesma dos chineses, que adoram as ramblas, dos ingleses, que se embebedam nas ruas, de alguns brasileiros, que adoram comprar, ou dos próprios locais - catalães ou não -, que apenas querem a cidade de volta. a Barcelona que me encanta reside ali ao vento que a noite traz, na varanda de casa, com um computador no colo, um trago demasiado lento e a descoberta de um poema qualquer.

domingo, 20 de julho de 2014

por uma vida mais viva

viver mais, viver mais, viver mais
é preciso sonhar três vezes, sempre
a vida é tua
cuida dela e faz bom fruto

quinta-feira, 3 de julho de 2014

o tempo de quase nada

existe o tempo da viagem e existe um tempo em mim. esse meu tempo, não sei qual é, e o da viagem começa a já apertar. ando nesses dias em que não se sabe muito o que fazer, à espera de quê, o lugar inquieto da ausência de caminhada. não há vontades por aqui, por ali, não há o que vem depois. enfiar-se no meio de uma cultura estranha no auge de sua afirmação é um mergulho intenso também num vazio de si, todos os desejos ficam para daqui a pouco guardados numa fragilidade não sei bem de onde vem, numa intensa busca por partir em breve. mas, pra onde ir?

sábado, 17 de maio de 2014

porque segue, sempre segue

sofri um acidente e não foi sério, fiquei de molho em uma ilha da tailândia me recuperando, ko chang, fiz trinta a pouco menos de um mês e ainda estou aqui bem perto do camboja, isto talvez me custe um ou dois países da viagem, talvez custe também algum tempo atencioso com o corpo em estrada, mas de que importa?, foi assim que eu não morri, que eu não desisti, foi assim que eu vivi e decidi ler um dos livros mais bonitos da minha vida quando o nietzsche chorou, foi assim que o mia couto aflorou a minha necessidade de estar em áfrica ao menos uma vez na vida, foi assim que eu mais uma vez estacionei e conheci pessoas queridas, mesmo distantes e de lugares cada vez mais longes do que os meus planos imaginavam, foi assim que eu descobri que a minha vida não é só caminhar, é caminhar e parar, respirar, contemplar, comunicar, foi assim que eu e mariana descobrimos o quanto é importante apenas se estar vivo, muito embora simples, foi assim que eu vi um pôr do sol dos mais bonitos da minha vida, que eu acordei por duas semanas seguidas em frente a um mar na medida exata dos meus sonhos, foi assim que vieram onze faixas, e depois sete, e agora apenas uma, mesmo ainda com muitas marcas dessa recente história, foi assim que consegui captar em muitas línguas diferentes o título do livro que estás por nascer, foi assim que eu descobri que todos os dias são, de certa maneira, pequenas celebrações do adeus, foi assim que eu comecei a aprender edição de vídeo, e não é que está ficando ao menos divertido?, foi assim que daqui a pouco eu começo a divulgá-lo, o livro, algumas pessoas já leram e até que gostaram, me fizeram sorrir e ter vontade de continuar, ainda bem que são meus amigos, viver é mesmo o que importa, uns têm medo da morte e eu passo cada vez mais a ter menos medo do amanhã e agora posso seguir o meu caminho de novo, me rearranjar nesse mundo grande que não sei de quem, pois daqui a alguns dias eu já volto a caminhar novamente, mesmo lento e sem muito saber ainda pra onde, mas sei que vou. penso assim todos os dias quando acordo: e o que é que ainda está por vir?

sexta-feira, 21 de março de 2014

Hoje, eu tenho fé

Eu estou na Índia e ainda não realizei isso, talvez seja difícil digerir ou muito fácil, difícil explicar, nem parece que faz apenas um dia que eu estou aqui ou um dia e meio, parece que faz uma vida, uma hora, outros tantos dias, parece que eu nunca vim aqui, parece um tanto o tempo todo que eu sempre estive aqui. Eu cheguei na Índia ontem de tarde e só agora completou-se um dia inteiro. Já fui em Nova Delhi, já vi vacas, camelos e elefantes nas ruas, já vi gente sofrendo por um prato de comida, vi ateliês modernos de artistas descolados, alguns cartazes de filmes de Bollywood, vi pouquíssimos turistas como nas semanas que se passaram, já andei de tuk-tuk que aqui tem um nome diferente e que ainda não consigo pronunciar, já falei namastê e ainda não consegui aprender outro termo até que os meus olhos parem de palpitar, tirei fotografias com crianças e fiquei chocado ao ver algumas em estado deplorável me tocando por alguma esmola que fosse, peguei um trem na madrugada e dormi, comi chicken biryani que tanto amo e acordei hoje já em Jaipur, no Rajastão, a cidade-rosa com todas as suas mil e outras cores, fui dar uma volta na cidade e tudo acontece ao mesmo tempo, não para, é todo mundo na rua no tempo presente, agora e nunca mais, saí procurando algo que não achei, talvez um palácio ou um forte, e depois vi algumas pessoas dançando meio que escondidas a uma porta escancarada e resolvi entrar para ver o que era, era uma espécie de celebração pós-holi, a festa lindas das cores, só havia mulheres e todas com roupas típicas daquelas indianas que a gente sempre vê na tevê, o caminho das índias, estavam hoje dançando para krishna e lhe oferecendo todas as cores do mundo, do holi, me convidaram junto a uma amiga para participarmos da dança, da festa, da celebração, dançamos junto sorrindo e fomos pintados, eu um pouco de rosa e ela meio que amarelo cobre, registramos tudo e eu chorei um pouco na volta já no tuk-tuk, chorei de novo quando cheguei no hotel e dei parabéns pra Julia Branco que hoje faz vinte e oito, e talvez ainda esteja em estado de choque, não, não, talvez ainda esteja em estado de leveza, é isso que estou, a Índia é surreal e hoje eu tenho fé porque o sol brilhou pra mim mais uma vez. This is the incredible India. Não sei ainda o que vai acontecer, se é que vai acontecer, pois ela te transforma em algo sem que você saiba muito bem em quê. 


quarta-feira, 19 de março de 2014

Um elefante, alguns monges descontraídos, um pôr-do-sol vermelho e uma nova história de amor para sempre

Cheguei ao Laos como não se costuma chegar. Fui de avião partindo de Chiang Mai, no norte da Tailândia, passagem um pouco cara para os padrões locais. Dizem que de barco é mais legal e muito mais barato, mas queria acompanhar Thiago e Flávia (do Depois da próxima viagem), que havia encontrado poucos dias antes, e matar um pouquinho da saudade do Brasil e dos amigos. Cheguei ao Laos sem muito planejar, aterrissei em Luang Prabang sem saber quanto tempo queria ficar, cheguei de peito aberto e completamente despreparado para o acaso e logo na chegada fui recebido com um Sabaidee, a palavra mais bonita que já ouvi na vida, e dali em diante foi um sorriso só.

Acho estranho que a maioria dos turistas que se arrisca por essas bandas praticamente ignora o Laos, restringindo-se à Tailândia e à Angkor Wat no Camboja, às vezes Vietnã, mas quase nunca o Laos (e o Myanmar, um dos meus próximos destinos). Não sabem o que estão perdendo, porque o mundo é logo aqui. Thiago e Flávia ficaram apenas três noites, tempo suficiente para desbravarmos o Night Market, um grande espetáculo de cores, sabores e sorrisos, onde eu gastaria algumas horinhas quase todos os dias, um belo menu degustação no Tamarind Restaurant, uma visitinha à Kuang Si, uma linda cachoeira de água azul e gelada, o primeiro contato com a ronda das almas, que acontece todos os dias entre cinco e sete da manhã, com a população e os turistas ofertando comida aos monges, em sua maioria descontraídos e sorridentes, visitamos o Grand Palace, que contém um museu legal e otras cositas más, subimos no templo mais alto da cidade, de onde pode-se ver o encontro dos rios e um overview da cidade depois da subida dos quase 400 degraus, fizemos massagem nos pés no final da rua principal, demos uma passadinha no Utopia, um dos bares mais legais de toda a viagem, e experimentamos uma espécie de mix de churrasco local com fondue no Lao Lao Garden. Foram dias muito bons e intensos, mas os dois estavam de partida para Hanói e logo eu já estava sozinho novamente.

Troquei de hotel e não gostei muito do que encontrei. Fiquei mais ou menos dois dias vagando entre cafés e padarias deliciosos, resquícios da colonização francesa, quando decidi passar uma tarde apenas escrevendo na Joma Bakery, que contém um dos melhores Lao Coffees de Luang Prabang, e ouvi um casal conversando em português. Mesmo um pouco tímido, o que ainda me atrapalha em algumas partes da viagem, puxei conversa e rapidamente me apaixonei por Elohim e Renata. Sabe aquele entrosamento natural em tom de prosa leve e que flui doce a caminho da amizade que se anuncia? Foi assim. Além de muito gentis, não ligaram para o fato de estarem em lua de mel (ou pelo menos não me contaram!), presente-delícia de seus amigos paulistas e paranaenses, e ficamos conversando por horas e horas e horas, e depois decidimos ir juntos à Kuang Si, onde dessa vez pulei de uma árvore e foi delicioso. E assim, naturalmente decidimos fazer um passeio de elefante no dia seguinte. No começo, fiquei um pouco sem graça, porque afinal né?, lua de mel é lua de mel. Mas, os caras são tão camaradas, descolados, descontraídos e legais que logo já tínhamos nos esquecido daquele simples detalhe. O passeio de elefante foi um dos momentos mais importantes da viagem, contei aqui outro dia, e além de nós havia um casal holandês muito legal que mais tarde encontraria em Vang Vieng, outra cidade mais ao sul do Laos onde fiz o Tubing, visitei a lagoa azul e conheci os queridíssimos Ahmet (do Sudão) e Mark (da Espanha Catalunha, que tirou essa belíssima foto e nos prometemos encontrar logo mais em Barcelona).

Elohim e Renata me indicaram a pousada que estavam – Philaylack Guest House, que também indico – e logo me instalei em um quarto com ar-condicionado por 16 dólares. Como viajo sozinho, sempre acabo pagando um pouco mais caro que todo mundo, mas não tenho aberto mão do conforto. Os quase seis meses de viagem às vezes pesam, visse? Nem me importo mais. Depois de um belo banho com o elefante, visitamos um templo-caverna muito interessante do lado de lá do Mekong e depois uma vila que fabrica whisky a partir do arroz, que não achamos muito legal. No dia seguinte, eles resolveram andar de moto e foi aí que tomei coragem, após quase um mês na Ásia, de me arriscar pela primeira vez numa magrela. Sim, eu estava morrendo de medo, mesmo automática e muito fácil de guiar, e Elohim não pensou muito antes de me encorajar. Foi um desafio e tanto. Quando vi, já estava passando por rodovias, estradas de terra e pontes de bambu, algumas paradinhas para pedir informação, capacete que voou na estrada e até pilotei à noite depois de uma cerveja ou outra na beira do rio. Ficamos surpresos com a visita no Ock Pop Tok, uma associação que incentiva as artesãs locais e que possui um belíssimo café à beira do Mekong, fomos presenteados pelo canto dos monges às quatro da tarde em um dos templos mais lindos e calmos da cidade e, ao final do dia, depois de um delicioso papo com um dos monges mais descolados, descobrimos um boteco na junção do Mekong com o Nam Khan e tivemos o pôr-do-sol mais inesquecível da vida ao silêncio brado dos barcos que cruzavam o rio ao anoitecer.

Em Luang Prabang, comprei um dicionário local, escrevi um bucado, comi peixe na brasa e muita comida local, quase não bebi e fiz novos e bons amigos. No último dia, conheci ainda Ludmy e Átila, do Vou Contigo, que estão me esperando na Índia para o próximo mês disso que já não sei se chamo mais por viagem. No Laos, ainda existe o toque de recolher à meia-noite, por mais que alguns turistas ainda consigam driblar as regras e ir parar num boliche em plena madrugada. Eu não precisei, pois o ritmo lento de se apenas existir naquele lugar já me bastava. Foi muito amor à primeira vista, à segunda, à terceira, teria muitas outras tantas dicas e coisas para falar, mas prefiro fazer pessoalmente no próximo boteco. Foram quase vinte dias inesquecíveis naquela terrinha que já não tem mais os milhões de elefantes de outrora, mas que nutre muita hospitalidade, alegria à base de sorriso e a simplicidade de um povo autêntico e amável que só. Entrei aprendendo Sabaidee e saí dizendo obrigado pra todo mundo e ei de voltar muito em breve. Khop Chai Lai Lai, Laos! Você agora é parte de mim.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Um dia de fúria

Na viagem, também temos dias de fúria. São mais raros do que o contrário, mas acontecem, e quando acontecem sai de baixo. Desde que cheguei a Bangkok, tem sido confusão atrás de confusão. Reencontrei amigos que não puderam embarcar porque não tinham visto para o país de destino, o calor tá de matar e é praticamente insuportável ficar na rua durante boa parte do dia, o curso de massagem que eu queria fazer é absurdamente caro para os padrões locais, os hostels e as guest houses são relativamente mais caras e menos confortáveis do que em outros lugares, todos dizem ter um milhão de coisas para se fazer aqui, e deve ter mesmo, mas nada tem me apetecido tanto.

Até aí tudo bem, bastasse mudar de cidade ou me dedicar um pouco à escrita, mas não posso porque o meu passaporte está retido em uma Embaixada. O máximo que posso é fazer uma excursão até a cidadezinha ao lado, que não descarto de modo algum. Bangkok é bonita, maluca, grande, mas talvez tivesse me encantado mais se tivesse sido a minha porta de entrada nessa parte do mundo, mas já fui alguns outros lugares da Tailândia, à Indonésia e ao Laos, então passa a não ter tanta graça quanto pudesse. Há muito o que se fazer aqui, mas como estou de partida para a Índia e o Nepal em breve, lugares que sempre sonhei, pensei que aqui pudesse ser um bom pit stop para organizar algumas coisinhas, principalmente no Brasil, e ter mais acesso às necessidades básicas do dia-a-dia, como a internet.

E é aí que tudo começou. Além de paga na maioria dos lugares, é horrível. O site do Banco do Brasil, que é era muito bom e nunca tinha falhado até aqui, resolveu ter um novo sistema de segurança que simplesmente não funciona no meu computador, a Unimed resolveu aumentar o valor do meu plano e exigir uma assinatura para a continuidade, as contas estão atrasadas, tenho que pagar o IPVA e as coisas do carro que está lá quietinho na garagem, realmente gostaria de poder pesquisar um pouco mais sobre a Índia antes de me arriscar por lá, que dizem ser danada de complicada, gostaria também de poder matar a saudade de algumas pessoas, mas o Skype não rola nem por telepatia.

A viagem é boa, está boa, é transformadora e eu não estou triste, longe disso e talvez esse post soe muito como #classemédiasofre, mas às vezes tenho alguns dias de fúria mesmo, que me perdoe essa culpa que recai sobre as minhas costas agora. Tive todas as senhas bloqueadas, tanto da internet quanto do telefone, tenho um milhão de coisas para fazer que dependo do banco e da internet e estou praticamente anulado. De quebra, o banco só oferece duas opções para entrar em contato do estrangeiro: o 0800 (que é impossível e não funciona em nenhum lugar do mundo) e um número que dizem poder ligar a cobrar, mas que exige uma senha que eu tenho e agora dizem também estar bloqueada e que devo ir a um caixa eletrônico do Banco do Brasil para resolver... aqui, nem sabem muito bem aonde fica o Brasil.

A sorte é que ainda tenho algum dinheiro e muitas pessoas que podem me ajudar no Brasil  (Val, Julia e Pai, obrigado!!!). Fazer novos amigos em Bangkok também tem sido difícil, o ritmo da cidade é frenético e quase todo mundo está aqui de passagem. Aos que vivem, valem-lhe outras opções além do circuito turístico, difícil de serem descobertas, quiçá exploradas. A solidão às vezes é um abandono e recorrer ao blog talvez faça bem. Acho que já passei da metade da viagem, mas ainda tem muito chão pela frente. Sei que é um dia após o outro, que ainda virão coisas maravilhosas e que este não é um problema tão grande assim, inclusive consegui postar esse texto (depois de algumas horas, é verdade) e juro que não vou reclamar mais, isso aqui é um presente de Deus! Mas, quando se está do outro lado do mundo e não há nada de pró-atividade que lhe seja suficiente, aí o bicho pega e o choro vem. Impotência e inoperância transformam-te um dia de céu azul e pôr do sol laranja em um dia do cão.

Pra amenizar, fui lá e fiz uma nova tattoo... Simples assim. A foto não está tão boa, coisas da emoção do momento, mas está escrito “sabaidee” que, em Laos, é uma espécie de Oi/Olá no sentido de saudação. Se pronuncia "sabaideeeee" e é uma delícia de ser falado e ouvido. A escolhi não apenas pela grafia bonita => ສະບາຍດີ <= e pela sonoridade mais linda da vida, mas também por ter conhecido as pessoas mais dóceis da minha vida por lá. Num país de apenas poucos milhões de habitantes, o que não lhes falta é um bom sorriso no rosto e boa vontade ininterrupta. Amei aquela gente, aquele povo, aquelas paisagens, tive o pôr-do-sol mais bonito da minha vida, fiz bons amigos, tentei domar um elefante e tudo o que já contei outro dia por aqui, e agora carrego mais essa parte do mundo comigo. E é pra sempre.


Sabaidee!!!
=)

terça-feira, 11 de março de 2014

Turista ou viajante?


Já vi muita gente falando sobre esse assunto, já me peguei mil vezes falando sobre isso, que tal programa era turístico demais ou que tal lugar tinha gente demais, aqui na viagem é pauta praticamente diária e todo dia sempre vem um puxar papo comigo sobre isso. Viajante ou turista? Por que não os dois? Sou viajante com cara de turista atualmente, já fui turista em muitas e muitas ocasiões, me formei em turismo na universidade, muito embora nunca tenha atuado efetivamente mas, sobretudo, sou uma pessoa bastante estranha e complexa, curiosa e preguiçosa, aberta e fechada, animada e cansada, pobre e rica, bonita e feia, feliz e triste, sou de tudo um pouco ao mesmo tempo e ainda assim não me taxo por isso ou aquilo. Prefiro me ser e, voilá, já anda tão difícil ser a gente mesmo, não é?

No fundo, penso que não há diferença alguma entre turista e viajante, entre eu e você, entre o seu amigo rico ou o seu colega europeu mochileiro. Estamos todos no mesmo balaio, no tempo presente, e o maior desafio está bem longe de simplesmente conseguirmos dar um nome melhor pra qualquer coisa que seja. Turista é isso, viajante é aquilo, somos todos gente (e todos tínhamos que ter consciência de que o simples fato de viajar nos dias de hoje já é um privilégio de poucos...). Um tanto de gente procurando algo novo, procurando o diferente, procurando o encontro com qualquer coisa que seja, o reencontro consigo mesmo, um tanto de gente com motivações ímpares e um dinheiro que caiba no bolso para explorar. Nessa viagem, já tive dias de rico, já fui pobre por opção em quartos coletivos e restaurantes baratos, já fui trapaceado por taxistas e vendedores, nunca tenho certeza do que estou fazendo, sou viajante por um certo tempo e nunca fui tão turista na minha vida. Quanto mais viajo, mais me sinto perdido. Li esse texto que colocaram no colo da Cecília Meireles, confesso que não procurei afundo se é de sua autoria ou não, mas bem cabe à discussão.

"Grande é a diferença entre o turista e o viajante.

O primeiro é uma criatura feliz, que parte por este mundo com a sua máquina fotográfica a tiracolo, o guia no bolso, um sucinto vocabulário entre os dentes: seu destino é caminhar pela superfície das coisas, como do mundo, com a curiosidade suficiente para passar de um ponto a outro, olhando o que lhe apontam, comprando o que lhe agrada, expedindo muitos postais, tudo com uma agradável fluidez, sem apego nem compromisso, uma vez que já sabe, por experiência, que há sempre uma paisagem por detrás da outra, e o dia seguinte lhe dará tantas surpresas quanto a véspera.

O viajante é criatura menos feliz, de movimentos mais vagarosos, todo enredado em afetos, querendo morar em cada coisa, descer à origem de tudo, amar loucamente cada aspecto do caminho, desde as pedras mais toscas às mais sublimadas almas do passado, do presente e até do futuro – um futuro que ele nem conhecerá. O turista murmura como pode o idioma do lugar que atravessa, e considera-se inteligente e venturoso se consegue ser entendido numa loja, numa rua, num hotel.

O viajante dá para descobrir semelhanças e diferenças de linguagem, perfura dicionários, procura raízes, descobre um mundo histórico, filosófico, religioso e poético em palavras aparentemente banais; entra em livrarias, em bibliotecas, compra alfarrábios, deslumbra-se a mirar aqueles foscos papéis e leve, para tomar um apontamento, mais tempo que o turista em percorrer uma cidade inteira. Quando lhe dizem que há sol, que o dia é belo, que é preciso sair do hotel, caminha como empurrado, cheio de saudade daqueles alfabetos, daqueles misteriosos jogos de consoantes, daquelas fantasmagorias das declinações.

Porta-se diante de um monumento, e começa outra vez a descobrir coisas: é um pedaço de coluna, é uma porta que esteve noutro lugar, é uma estátua cuja família anda dispersa pelo mundo, é o desenho de uma janela, é a cabeça de um anjo que lhe conta sua existência, são as figuras que saem dos quadros e vêm conversar sobre as relações entre a vida e a pintura, é uma pedra que o arrebata para o seu abismo interior e o cativa entre suas coloridas paredes transparentes.

O turista já andou léguas, já gastou a sola dos sapatos e todos os rolos da máquina – e o viajante continua ali, aprisionado, inerme, sem máquina, sem prospectos, sem lápis, só com os seus olhos, a sua memória, o seu amor".

Na minha viagem, já fiz de tudo um pouco e talvez não seja nem viajante e nem turista, mas possivelmente os dois ao mesmo tempo. Sou também escritor, tem vezes, aluno em outras, já fui guia de turistas perdidos, tenho sido corajoso na maioria das ocasiões, mas tenho uma pitada de medo sempre também, me sinto constantemente perdido em qualquer lugar novo que eu piso, mas estou bem disposto e entregue ao tempo presente, evidentemente cheio de amor. É preciso respeito, respeito, respeito, três vezes pra jamais esquecer. Fiz mais amigos turistas do que viajantes. Não acho legal essa história de viajante ter que, por obrigação, gastar menos que turista. Não acho legal isso de ser perguntado todos os dias sobre o preço das coisas e ver todo mundo achando tudo muito caro. Não gosto do olhar torto de alguns com o meu mochilão sujo dentro de um hotel boutique, não gosto que me achem novo demais para o que fiz nos últimos anos ou velho demais para o que estou fazendo. Alguns ainda me dizem loucos por ter largado tudo. Ou quase tudo. Talvez, no final das contas, a felicidade seja igual pra todo mundo, independente do dinheiro que se gasta, da distância que se viaje, do tipo de viagem que se faça, porque aqui não se trata de esquerda e direita, muito embora quase tudo no mundo o seja, não se trata do preconceito recíproco que sempre vejo por aí, se trata apenas de realizar ou tocar em algo ainda escondidinho lá no fundo do útero. E tão somente. Por que achar bobagem isso de querer viajar mais barato? Por que não respeitar os outros turistas que estão ao mesmo tempo que você no templo mais visitado da cidade? Afinal, escolhemos isso pra gente e essa escolha exige muita paciência, e que assim seja, então. 

Hoje pela manhã, fui à Embaixada da Índia e me mandaram três vezes de volta para a mesma fila por um erro deles. Eu sabia e talvez no Brasil ficasse nervosinho e com raiva, talvez fosse reclamar com alguém, mas estou aqui do outro lado do mundo sem ninguém, só comigo e com essa meia dúzia de bons corações que cruzei, achei melhor respirar fundo, sorrir e escrever um pouquinho porque amanhã a viagem sempre continua. Tinha tanto turista quanto viajante lá na Embaixada, no clichê máximo da questão, e ambos, nessa hora, não passam de estrangeiros. Fora de casa, a gente acaba sendo apenas isso: um estranho. Nem todo lugar vai ter um motorista de tuk-tuk legal e que goste de filmes pornôs, nem sempre você vai conhecer muita gente quanto acha que poderia, volta e meia sempre aparecerá um chato de galocha à sua frente, nem todo templo será lindo como o primeiro que você viu, nem toda ilha será paradisíaca, nem todo monge será sorridente e gentil, nem todo viajante será legal, tampouco os turistas, uma hora vai chover, uma hora você vai cansar e querer apenas dormir, uma hora você vai se culpar por estar num hotel mais caro, em outras vai se achar o cocô do cavalo do bandido por estar em um hostel, nem sempre haverá festas e sorrisos e nem toda criança terá um sorriso mau humorado e lindo no rosto como essa da foto. Bom mesmo é saber, ao menos, que bem lá no fundo existem mesmo apenas dois tipos de turistas ou viajantes: os babacas e os não babacas. Os meus amigos são todos lindos, talvez não por escolha, mas por apenas serem, o que lhes basta, e na semana que vem estou indo para a Índia com mais alguns deles ou talvez faça novos, ainda não sei. Nos vemos por aí. Ou você deixaria de ir ver o Taj Mahal por que tem muito turista?

domingo, 2 de março de 2014

quanto custa uma viagem?

sou produtor, gestor, sistemático e tarado das planilhas, então é claro que fiz um mini-planejamento financeiro para a minha viagem. a excelente notícia do dia é que, em cinco meses entre europa e ásia - mesmo sem saber onde colocar Istambul nessa história -, economizei tanto em hospedagem, quanto em gastos gerais como comida, ingressos, compras, passagens, etc. foi bem mais do que eu precisava, sem dúvida que tive alguns muitos luxos e poderia ter procurado mais hospedagens gratuitas ou cozinhado, por exemplo, mas bem menos do que eu esperava.

economizei, vi o papa a pouquíssimos metros de distância, a cachoeira de água quente mais linda da minha vida, fiquei de carro uma semana inteirinha pela toscana, vi a neve pela primeira vez com a bárbara, que me recebeu em munique e hoje é uma grande querida, fiquei quinze dias loucos em berlim, tive uma semana inesquecível em amsterdã e conheci muitas pessoas legais, uma das noites mais surreais em londres, quando voltei de tuk-tuk para casa ou quando me perdi com o dedé por algumas ruas escuras, fui a um dos castelos mais bonitos da vida com a juju, passei um mês com a julia em roma e istambul, enfiei muitos sonhos na mala e despi-me de outros, fui à praia dos meus sonhos na tailândia, vi gente tatuar o nome do melhor amigo na bunda de madrugada, fiz a minha primeira tatuagem também, visitei templos, usei sarong, tomei café de cocô de um bicho estranho em bali, fiz aulas de culinária, peguei em macaco, vi dança balinesa, conversei com monges, fui abençoado mais de uma vez, entrei na jaula de um tigre, tentei domar um elefante arisco, joguei xadrez em indonésio, ajudei amigo recém conhecido a achar o hospital mais próximo, andei de moto pela primeira vez, conheci gente e mais gente, fiquei sozinho em muitas ocasiões, tive saudades e fiquei triste, chorei algumas vezes, mas não passei perrengue nenhum dia, me hospedei sozinho quase sempre num quarto single com banheiro próprio, comi os pratos que quis, todos os sorvetes de roma e os deliciosos kebaps de istambul, comprei uma bota, um mochilão, uma camisa do brasil, um buda amarelo e outro vermelho, muitas meias e uma jaqueta de frio pesado, coisas caras na europa, decidi ir para a indonésia de um dia para o outro e ainda vou ficar mais alguns meses perambulando por laos, camboja, vietnã, myanmar, tailândia e sabe-se lá deus mais o quê. talvez filipinas ou butão?

gastei mais do que eu precisava, sem dúvida alguma, mas no final das contas não mudaria uma vírgula nisso tudo. muita gente acha que viajar é caro. e é caro sim, muito. mas pensando que no brasil eu também teria que almoçar todos os dias, provavelmente viajar, dar presentes de natal, beber bastante, comer fora, pagar todas as contas, além de tudo aquilo que a gente gasta e que no final é uma bobagem, penso que se for possível juntar uma boa graninha é bem tranquilo ficar um tempo longo viajando. tem vários sites que dão dicas de preços e média de custos, o que não é o meu caso...

outro dia, vi uma menina (que ficou bem famosa na internet) dizer que ficou 3 meses sem grana na europa. acho bem poético, divertido, desafiador e libertador, até trocamos alguns e-mails, mas não acredito que seja 100% possível. é muito into the wild e praticamente impossível se sobreviver sem um euro que seja no bolso. mas é possível viajar barato. considero os meus custos "altos" ou "médios", mas eu me planejei para isso. o dinheiro anda bem caro também. mas, se você topar gastar boa parte do seu tempo buscando couchsurfers para se hospedar e topar ser o taradão do supermercado e cozinhar todo os dias, dá para fazer a viagem por bem menos, com muito pouco dinheiro. existem guest houses, hostels e muitas outras possibilidades na ásia, por exemplo, por cinco a dez dólares por dia. tenho pagado algo entre quinze e vinte, em média. rola de encarar mais tuk-tuks e transportes quase clandestinos também, é uma aventura só. conheço alguns viajantes que me condenam por pagar vinte dólares para me hospedar num lugar confortável e com piscina. viajando de dois, sai ainda mais barato. conheço gente que paga muito menos, gente que paga muito mais. a máxima é que todos estão fazendo a viagem que escolheram para si e é isso que importa. não vou ser hipócrita de dizer que é uma coisa fácil e acessível a todos, pois não é, ainda mais na situação que vivemos. mas, tampouco recalque como alguns andaram dizendo por aí. vou no meu ritmo e me propus algo variado, que pegasse um pouco de tudo e ainda vou ficar num hotel cinco estrelas, surfar na casa de alguém e com certeza passarei um perrengue sem lugar pra dormir.

mas, a conta está em dia. estou feliz, tive alguns dos melhores e mais plenos dias da minha vida. ontem, vi um pôr-do-sol vermelho-laranja e alguns lindos monges cantando em um templo maravilhoso. outro dia, um amigo disse que esse era o maior investimento que eu poderia ter feito em mim mesmo. já eu, vou adiante. isto é a vida que eu escolhi pra mim por um ano e, por mais que custe muito ou que seja mais uma máxima clichê, não há dinheiro que pague e começaria tudo de novo. e na próxima eu pularia a europa, sem pensar duas vezes. a ásia é puro amor.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

como fingir bem ou domar um elefante

essa foto não condiz com o que foi o meu dia. eu andei de elefante, sim, mas não foi tão simples assim. além da realização do sonho, é claro, pois às vezes precisamos viajar o mundo pra isso, houve algo de muito (in)tenso nessa história. estava com dois casais, éramos cinco. e eram três elefantes. um casal em cada um e eu sozinho no outro. na hora do banho, pouco antes dessa foto, o bicho parecia um elefante de rodeio. os outros ficavam quietinhos e apenas se banhavam. o meu não, estava feliz e saltitante, não parava um instante sequer, entrava e saía da água, quase pulava, chacoalhava feito o demônio, só esqueceu que estava comigo em cima. e foi lindo! foi bem bonito brincar de cowboy em uma mistura de banho, aventura e felicidade. antes, passeei na floresta, depois dei comida. e juro que ainda vem mais. o laos é só alegria e eu tô bem feliz de ter fingido domar o meu primeiro bichinho que até ganhei uma cerveja da rapazeada. isso foi em luang prabang, recomendo a empresa jewels, na rua principal. mas, independente de onde ou com qual companhia escolher, não deixar de fazer o banho. é vida no sentido máximo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

a cachoeira mais bonita da vida


estou na toscana há uns 20 dias e já passei por florença, siena, cinque terre (que não é bem na toscana, mas é do ladinho), pisa, lucca, san gimignano, montepulciano, região de chianti, monteriggioni, cole di val d'elsa, rapolano terme, aciano e sei lá mais quantos lugares. mas, hoje foi um dia especial. 

primeiro, porque a semana inteira fez um frio do cacete, na madrugada bateu -3°C e durante os dias a máxima foi de 2°C. hoje fez 6°C e daí já era alegria pura usar uma blusa a menos. acordei e o dia estava lindo, nenhuma nuvem no céu. tomei o café da manhã lentamente, aproveitando que nos últimos 15 dias tenho sido o único hóspede em qualquer lugar que passo. além de novembro ser o mês mais chuvoso na itália, é a época mais fria na toscana e todos fogem daqui. eu não. além de mineiro que topa praia no inverno, sou viajante daqueles destemidos e que sempre leva ao pé da letra uma frase aprendida outro dia: "já que lá tá, deixe que lá teje". cortesia da julia branco. e então topei encarar a toscana abandonada, andar em meio às belíssimas cidadezinhas medievais praticamente desertas, batalhar para arrumar um lugar aberto para comer, fugir dos programas de casais e do comércio exagerado de vinhos, arrumar outros seres vivos na rua depois das 19h para tentar conversar, a única coisa que talvez não tenha sido possível. 

e aí, como todo bom mineiro e taurino com ascendente em virgem, deveras precavido, terra, pé no chão, vim todo preparado para o frio e a solidão, mas acabei dando um pouquinho de sorte também. chuva mesmo, só há um tempo atrás lá em florença e em cinque terre, depois só sol. em siena, cidade incrível, tomei coragem e aluguei um carro... pedi um cinquencento, sonho antigo de consumo, mas alguém bateu o carro um dia antes e aí tive de me contentar com o panda, que é igualzinho ao "novo uno" do brasil. ôh tris-te-za! liguei o foda-se, não é charmoso como a toscana, tem mais cara de bologna, mas me levaria aonde eu quisesse e no meu tempo, o que era mais importante. e já em poucos metros de saída da cidade, fiquei completamente apaixonado por cada cantinho das estradas, exatamente como eu já tinha visto em filmes, matérias, fotografias de amigos e etc. é lindo de morrer. fui visitando várias cidades, parando sempre para respirar, para contemplar o nada, escrever um pouquinho no ritmo lento da toscana. e assim estou desde segunda-feira, eu e o meu carrinho.

teria muitas outras coisas para contar, como o casal de velhinhos que me recebeu num hotel-fazenda ao lado de san gimignano, mas eu queria falar de hoje, porque hoje foi um dia especial. às vezes, parece que a gente precisa viajar o mundo todo para encontrar momentos inesperados como este. o dia de hoje fez valer cada um dos quase 70 dias de viagem que eu já tenho.

e então, como eu ia dizendo, acordei e tomei um café gostoso, contemplei o lindo céu azul e a temperatura amena. peguei o carro e tomei rumo à cortona, aquela do filme, do livro e das histórias, que é realmente encantadora. lá, que fica no alto de uma pirambeira, fui andando, andando, andando, depois subindo, subindo, subindo, subi até onde os turistas nunca vão, acho que nem os moradores costumam ir lá, fui parar no ponto mais alto da cidade de onde era possível ver a toscana inteira e também picos de neve, que são belíssimos. estava sozinho, eu e uma igreja gigante, e foi quase um gozo estúpido que tive naquele momento. depois desci toda a cidade e fiquei por um bom tempo na praça, um dos personagens principais de "sob o sol da toscana", apenas entendendo ou tentando entender o que era viver naquela cidadezinha onde eu com certeza ficaria para sempre. 

de lá, decidi passar no lago trasimento, que é de uma beleza sem fim. fiquei um pouco lá, mas não havia muito o que fazer no inverno e foi então que tomei rumo a san fillipo, graças a uma indicação da carmela, a velhinha que me recebeu lá em san gimignano. cheguei a san fillipo como quem nada quisesse e a cidade estava deserta. dei uma volta, não vi ninguém. dei duas, já estava indo embora, quando vi uma plaquinha "fossa bianca". ah, tá. vou parar! como quem não quisesse nada... e aí fui andando, andando, andando, andei uns 20 minutos, sujei todo o pé de barro, a bota nova, a calça lavada, e depois andei mais um pouco, e fui descendo, e aí passei num riacho, e então de susto me deparei com uma das coisas mais bonitas que já vi na vida. es-pan-to é o nome disso. a cidade é uma terme (é assim que fala?) e tem água quente, resquícios vulcânicos. as formações rochosas com o tempo foram ficando manchadas pela água quente e ficaram brancas. a cachoeira é essa aqui que está na foto, nada perto do encanto que tive em arrepios quando cheguei por lá. tirei a foto do celular, porque a máquina eu tinha esquecido no carro. o que vale é a experiência, todos os sentidos aguçados. e hoje eu não nadei, porque não estava preparado, mas amanhã cedo eu volto lá correndo. hoje só tinha um casal, tomara que amanhã seja apenas eu.

depois disso, ainda em transe e realmente entendendo um pouco do sentido de viajar sozinho e ter encontros comigo mesmo, parei em bagno vignoni, que é mais recalcada e com hoteizinhos mais chiques, mas tem uma bela de uma inusitada piscina natural de água quente na praça central da cidade, linda de morrer... já era quase fim do dia e decidi passar em montalcino antes de voltar à pienza, onde estou hospedado, que é uma mini-vila encantadora. e para fechar o dia mágico, porque havia de ser, já era quase 17h e peguei um pôr do sol cor de infinito, vermelho-caramelo, pra encher os meus olhos de água, como agora estão ao finalizar esse textinho sem revisão. daqui, vou indo ao meu encontro, espero que você também.


(agora estou no laos, em luang prabang, e hoje completo cinco meses de viagem. mas, esse post foi recuperado de novembro passado, quando esse blog sequer pensava em existir e eu tampouco tinha completado três meses de viagem...)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Um mês de Ásia

Hoje é dia 12 de fevereiro. Amanhã é aniversário do Terezo e depois da Juju, ou o contrário. Nunca fui bom com datas, mas sempre os carrego aqui num lugar bem confortável do peito, primos-irmãos mais que queridos. Terezo teve filho outro dia, Pedro, não pude lhe dar as mãos ou um carinho sequer. Com Juju tive encontro recente, parece que foi ontem, mas lá se vão quase cinco meses. Me enche todo de orgulho com o seu francês de francês e aquela sensação do dever cumprido lá do outro lado do oceano. E assim como Juju e Terezo, tantos outros queridos e tantas outras datas têm simplesmente passado. O carnaval vem aí, o Cruzeiro foi campeão, o Galo fez feio no Marrocos, a PM continua uma merda, o Lacerda rima, Mamis e Papis fizeram 32 de casados e eu aqui, ainda na estrada, tão perto e tão longe de quando ainda há de chegar um final.

Hoje, completo um mês aqui na Ásia e lá se vão 140 dias na estrada. Dois continentes, oito países e mais ou menos umas trinta cidades. Hoje, faço um mês de Ásia e nunca me senti tão bem. Não sei como explicar, se é que há explicação pra certas coisas do coração, mas estou diferente de ontem e o amanhã nunca esteve tão distante e próximo e misterioso ao mesmo tempo. Se tivesse que nomear, talvez chamasse transformação. O tempo da Ásia me faz um cara melhor, me faz ver o mundo e as pessoas de outra maneira, com certa dose de simplicidade e a certeza de um dever jamais cumprido. Nos três meses bons que tive na Europa, conheci muitos lugares e poucas pessoas. Talvez pelo inglês ruim, talvez pela aparante timidez que transparecia quando me assentava sozinho ao fundo do restaurante sem que quisesse ser visto, talvez pelo frio ou porque eu precisasse mesmo de algum tempo para refletir sobre qualquer coisa que fosse. Em todas as vezes em que chorei, sorri, sofri ou me amedrontei com o que o destino me reservava, nunca imaginei que um dia fosse parar num lugar tão distante e feliz. Indonésia. Bali. Ubud. Tão longe de casa, tão perto de mim.

Na próxima semana, volto para a Tailândia. Na outra, talvez vá para o Laos. Amigos queridos hão de ser bem-vindos nessa parte do caminho, ou o contrário, porque a invasão nesse caso é minha. O mundo é de todo mundo, todo meu, todo seu, nosso, ou ao menos deveria ser, e essa viagem é tampouco só minha. É dela própria e traz consigo todas as questões que porventura tentei me esquivar no passado, ou num passado não tão distante, o destino conduz as coisas à sua maneira com maestria e tem me proporcionado quantos anjos ou companheiros lhe forem convenientes. E com vigor. Ontem, conheci pessoas. Anteontem, não. Hoje, mais amigos se foram. Amanhã, não sei. Essa é uma das melhores partes: o não saber quase nada. Às vezes, quero escrever, outras vezes não, na maioria do tempo quero simplesmente encontrar um caminho. Não sei se encontrei, mas as minhas escolhas têm me feito um bem danado até agora. E mesmo que eu saiba muito pouco, sei que estou aqui, agora e sinto que preciso ser, e tão somente, e esse tempo impreciso tem me permitido mais leve.

Ontem, fiz aula de culinária balinesa. Fiquei bêbado outro dia e tenho visto muitos vídeos de carnaval. Pena de Pavão de Krishna é o meu preferido. Já conheci templos, arrozais e tomei o café mais caro do mundo, que sai do cocô de um bicho tipo o furão. Estou na minha pousada agora. Decidi ficar em um lugar mais caro por alguns dias, se é que cinquenta reais por um lugar gostoso com ar-condicionado, silêncio, piscina e café da manhã pode ser considerado caro. Aqui, escrevo. Comprei um Buda amarelo e outro vermelho, acho que um pouco do que tenho aprendido tem a ver com isso: à nossa maneira sempre vale mais à pena. Mais coração, menos razão. Tenho tentado segui-lo, mesmo clichê, e me permitido errar no meio do caminho quantas vezes forem necessárias. Hoje, faço um mês de Ásia, mas parece que não. Na próxima semana, cinco meses de viagem. E depois não sei.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sobre o meu amor por Bali (e um pouquinho da saudade que às vezes bate no peito)


E eis que estou cá a pensar novamente: o mundo é muito grande. A cada olhadinha que eu dou no mapa, dessas desastrosas aventuras de Google Maps, vejo que os templos de Borobudur estão a menos de uma hora e talvez nem queira ir, que a Austrália é logo ali, que a China é logo aqui, que o Japão está a duas ou três horinhas de vôo, que o moço acabou de chegar da Mongólia, que a menina estava surfando em Sumatra e se eu quiser dar uma passadinha em Cook Island ou Samoa talvez seja possível, por que não Timor Leste ou Filipinas?, Burma também cairia muito bem. Outra viagem possível, e que não sai dos meus pensamentos, seria ir por terra do norte da Tailândia, via Myanmar e Bangladesh, até o mais escondidinho canto da Índia ou do Butão, com paradinha no Nepal para ver o sol nascer ao pé do Himalaia e fechando o dia orando por qualquer coisa que seja no Tibete. E ainda tem Laos, Camboja e Vietnã, outros dos muitos sonhos que estou prestes a realizar.


E eis que então novamente tudo meio que muda num piscar de olhos: o mundo é pequeno pracaramba e tudo está logo aqui embaixo do nariz. Pois, quando penso que estou do outro lado do planeta - e que ainda assim posso conversar quase que instantaneamente com todos os queridos distantes -, sinto um aperto de urso no peito também, porque muito embora seja possível postar fotos e textinhos livres como esse, conversar e lançar beijos ou piscadinhas marotas, jamais poderia tocá-los ou estender-lhes as mãos a que venham pegar uma praia mais tarde em Padang, passear num elefante no norte da ilha, fazer uma aula de culinária balinesa ou ao menos dividirmos uma boa Bintang em um boteco qualquer.  

Estou com saudades de casa, sim, volta e meia me pego pensando no carnaval. O churrasco que fizeram na semana passada quase me fez desabar de tanta vontade. Mas, quando lembro que o mundo é agora e que esse agora é a minha casa também, ao menos por hora, fecho a mala e sigo sem muito tramar. Estou pensando seriamente em passar alguns dias num Ashram antes que volte pra Tailândia, quero muito tomar uma cerveja com Thiago e Flávia em breve, mas a Indonésia ainda é o meu lugar. Suksma, Bali. Já te amo pra sempre e ainda não chegou nem na metade. 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quando me perguntam sobre a mala

Com rodinha, sem rodinha, mochilão, mochilinha. O que trazer e o que deixar para trás? Antes de vir, gastei muito tempo pensando no peso ideal de uma mala e no que era essencial para uma viagem longa, pesquisei modelos e marcas diferentes, fritei muita gente e depois de um tempo descobri que não tinha muita solução. Liguei o foda-se e decidi ser feliz. Enchi o peito de amor, vim com o mochilão que eu já tinha há alguns anos e trouxe apenas o que achei que devia. Simples assim.

Lá se vão quatro meses e até que tenho sobrevivido. Tive de trocar a mochila e a mochilinha por duas mais novas, pois depois de um tempo as costas doíam tanto que os sonhos já não se sentiam mais tão confortáveis. Já perdi muitas coisas, manchei as camisas que eu mais gostava, desfiz-me de outras, doei roupas de frio, comprei bota de neve, tive dois ou três chapéus diferentes e passei a odiar todos os guias que eu comprei, mas a chavezinha tinha virado e eu já estava por aqui, me abri, permiti que muitos anjos cruzassem o meu caminho e tudo me foi parecendo tão natural que as soluções simplesmente começaram a surgir.

Se a asinha está batendo, tome coragem que é hora de voar. Como mochileiro inexperiente (tsc tsc), sugiro apenas uma mala na medida exata dos seus sonhos, se me permite, pois o resto há de vir. Se der, traga também uma pitada de coragem, jogo de cintura e uma boa dose de humor e paciência, propicie-se um encontro pleno consigo mesmo, com o seu corpo e com o que mundo há de lhe oferecer. Se é tímido, apenas seja e se assuma como tal. É difícil, sofri um bucadinho no começo, mas tudo tem sido muito melhor agora. Libertação. Mas, se do contrário, vá em frente e seja expansivo. Há muita gente legal no caminho. Quem tem de aparecer, vai aparecer, e como é bom apegar-se aos lugares e às pessoas. Eu amo amar e nem de longe sou do tipo que acredita naquela velha máxima do desapego. 

E ainda havendo espaço, que traga meia-dúzia de roupas para não resfriar, um ou dois livros para as horinhas de solidão, um bom rascunho e um lápis para quando te olharem estranho no cantinho do bar e talvez uma lomográfica que te permita registrar os momentos mais gostosos por ângulos mais divertidos. Não se culpe pelas vontades súbitas de acessar o Facebook e que haja, então, um computador sempre por perto pra matar a saudade. Mas, não tendo, não se preocupe. Use e abuse do acaso, de todos ao seu redor, dos querubins e dos serafins, cutuque o coleguinha do lado e tente ao menos lhe dizer um oi, vai lhe fazer bem, um sorriso sempre cai bem, voilá, é preciso sentir, fluir, deixar estar. Há uma espécie de união zelada entre as pessoas que viajam sozinhas que é inexplicável. A mala é só um detalhe.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sobre o dia em que vi o Papa meio que sem querer...

Era oito de dezembro e fazia pouquíssimos dias que o Cruzeiro tinha sido campeão brasileiro, ainda no ano passado, e eu tava andando de bobeira pelas ruas de Roma, tempinho quase chuvoso, coisinha mais ou menos, dei uma passeadinha no parque do lado do hostel, fui numas praças para escrever um pouco, estava indo almoçar quando vi uma multidão e achei até que fosse alguém tipo.... o Papa? E era mesmo! Vinha Francisco, todo bonitinho, pegou no colo a criança que estava do meu lado e foi bem bonito vendo todos à volta emocionados. Quase que eu gritei "vai, Francisco, ajuda o Fluzão dos meus pais que ainda dá tempo!", mas começou a chover e ele voltou para dentro do carro. Polêmicas igrejísticas à parte, foi um momento bem bonito de ver. E viver. Pena que eu não tava com a minha camisa do Fora Lacerda pra entregar pra ele.