domingo, 5 de abril de 2015

um ano depois

há um ano, exatamente, eu pisava na Índia pela primeira vez.

acordei com saudades de tentar explicar o que significa o termo saudades e com saudades também do caos, da pureza de pensamento, da sujeira, do barulho ensurdecedor nas ruas, da alegria, da tristeza enrustida, das buzinas, do espiritualismo, do silêncio, do hinduísmo por muitas vezes incompreendido, do caminhar com sandálias rasteiras desviando dos cocôs sagrados das vacas (também sagradas), de caminhar descalço na beira do lago em pushkar, de acordar em frente ao ganges, dos macaquinhos bacanas da cara preta, dos sapecas da cara vermelha, dos elefantes na estrada, dos amigos encontrados, dos rituais diários ao pôr-do-sol e muitas vezes ao nascer, também, de todas as cores do holi, das comidas, dos cheiros e sabores, do knaan café, do autorickshaw, do rafik e do hari, do guru que jamais me lembraria o nome, mas me disse coisas importantes na caminhada, das aulas de reiki, yoga e massagem, dos diálogos inacabáveis, dos capuccinos que representavam o ocidente em muitas manhãs com um chileno e dois italianos, dos queridos que pude reencontrar pouco depois já na europa, dos que ainda vou encontrar por aí, de paharganj, rajastão e rishikesh, onde me transformei e finalizei a escrita da festa do adeus, saudades de toda a intensidade que aquela terra me proporcionou, o pior e o melhor lugar que já estive na vida.

foram 40 dias, mas pareceu uma eternidade. e disso tudo fica apenas a certeza da volta, quem sabe em breve. pois, "não sei ainda o que vai acontecer, se é que vai acontecer, pois a Índia te transforma em algo sem que você saiba muito bem o quê..."

o meu novo plano de vida

a verdade é que há dois anos decidi mudar de vida. larguei quase tudo aqui nas gerais e parti para o mundo. dessa viagem, já contei bastante. 343 dias inesquecíveis.

outro dia, uma amiga me disse que o período de "readaptação" leva mais ou menos metade do tempo que se ficou fora. pois bem, já se foram 6 meses desde que voltei (voa, né?) e até agora não me readaptei. resta saber se a mim mesmo ou à sociedade doente que encontrei na volta. política fora de ordem, intolerância, fobias inimagináveis - ou de certa maneira esperadas -, instituições confusas, dinheiro sobre tudo, para variar, e sobre todos os outros desejos.

na volta, trouxe comigo apenas uma certeza: de que a estrada era, dali em diante, o meu caminho. outro amigo me disse que vai tirar um sabático a cada dois anos. trabalha dois, para um. uma excelente ideia. já eu não consigo me planejar tanto, pois as ideias e os planos mudam como muda o meu ânimo em todas as manhãs. às vezes quero desbravar o mundo, às vezes não consigo ir até o bairro vizinho para uma cerveja, em outras não quero nem sair da cama. mas, a certeza que tenho é que não dá para ficar pela metade, viver no automático, essa sensação de "neutro" ou "ponto morto" que às vezes me engole.

eu adoro esse belô, e isso é das matérias mais difíceis de lidar, mas o mundo ainda é o meu lugar. ninguém sai ileso de uma viagem dessas. a chavezinha virou e, ontem, fui dormir pensando em pegar um carro e sair dirigindo loucamente até onde desse conta. hoje, amanheci com essa notícia na minha caixa postal: amigos largam tudo e vão para o alaska de carro

quando? não sei. muito menos com que dinheiro ou como ou pra onde ou em que circunstâncias. jamais pensei no alaska como esses meninos, seria into the wild demais para os planos que se resumem em um apartamento sem varanda nos dias de hoje. mas faria um bem danado pegar um carro e ir até o ponto mais baixo da américa do sul e depois subir, subir, subir, subir até onde o coração aguentar e depois voltar pra, quem sabe, recomeçar de novo.

esse ciclo me alimenta e esse é o meu novo plano de vida, pelo menos até depois de amanhã.

[quem sabe não surgem outros adeptos por aí?]