quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

como fingir bem ou domar um elefante

essa foto não condiz com o que foi o meu dia. eu andei de elefante, sim, mas não foi tão simples assim. além da realização do sonho, é claro, pois às vezes precisamos viajar o mundo pra isso, houve algo de muito (in)tenso nessa história. estava com dois casais, éramos cinco. e eram três elefantes. um casal em cada um e eu sozinho no outro. na hora do banho, pouco antes dessa foto, o bicho parecia um elefante de rodeio. os outros ficavam quietinhos e apenas se banhavam. o meu não, estava feliz e saltitante, não parava um instante sequer, entrava e saía da água, quase pulava, chacoalhava feito o demônio, só esqueceu que estava comigo em cima. e foi lindo! foi bem bonito brincar de cowboy em uma mistura de banho, aventura e felicidade. antes, passeei na floresta, depois dei comida. e juro que ainda vem mais. o laos é só alegria e eu tô bem feliz de ter fingido domar o meu primeiro bichinho que até ganhei uma cerveja da rapazeada. isso foi em luang prabang, recomendo a empresa jewels, na rua principal. mas, independente de onde ou com qual companhia escolher, não deixar de fazer o banho. é vida no sentido máximo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

a cachoeira mais bonita da vida


estou na toscana há uns 20 dias e já passei por florença, siena, cinque terre (que não é bem na toscana, mas é do ladinho), pisa, lucca, san gimignano, montepulciano, região de chianti, monteriggioni, cole di val d'elsa, rapolano terme, aciano e sei lá mais quantos lugares. mas, hoje foi um dia especial. 

primeiro, porque a semana inteira fez um frio do cacete, na madrugada bateu -3°C e durante os dias a máxima foi de 2°C. hoje fez 6°C e daí já era alegria pura usar uma blusa a menos. acordei e o dia estava lindo, nenhuma nuvem no céu. tomei o café da manhã lentamente, aproveitando que nos últimos 15 dias tenho sido o único hóspede em qualquer lugar que passo. além de novembro ser o mês mais chuvoso na itália, é a época mais fria na toscana e todos fogem daqui. eu não. além de mineiro que topa praia no inverno, sou viajante daqueles destemidos e que sempre leva ao pé da letra uma frase aprendida outro dia: "já que lá tá, deixe que lá teje". cortesia da julia branco. e então topei encarar a toscana abandonada, andar em meio às belíssimas cidadezinhas medievais praticamente desertas, batalhar para arrumar um lugar aberto para comer, fugir dos programas de casais e do comércio exagerado de vinhos, arrumar outros seres vivos na rua depois das 19h para tentar conversar, a única coisa que talvez não tenha sido possível. 

e aí, como todo bom mineiro e taurino com ascendente em virgem, deveras precavido, terra, pé no chão, vim todo preparado para o frio e a solidão, mas acabei dando um pouquinho de sorte também. chuva mesmo, só há um tempo atrás lá em florença e em cinque terre, depois só sol. em siena, cidade incrível, tomei coragem e aluguei um carro... pedi um cinquencento, sonho antigo de consumo, mas alguém bateu o carro um dia antes e aí tive de me contentar com o panda, que é igualzinho ao "novo uno" do brasil. ôh tris-te-za! liguei o foda-se, não é charmoso como a toscana, tem mais cara de bologna, mas me levaria aonde eu quisesse e no meu tempo, o que era mais importante. e já em poucos metros de saída da cidade, fiquei completamente apaixonado por cada cantinho das estradas, exatamente como eu já tinha visto em filmes, matérias, fotografias de amigos e etc. é lindo de morrer. fui visitando várias cidades, parando sempre para respirar, para contemplar o nada, escrever um pouquinho no ritmo lento da toscana. e assim estou desde segunda-feira, eu e o meu carrinho.

teria muitas outras coisas para contar, como o casal de velhinhos que me recebeu num hotel-fazenda ao lado de san gimignano, mas eu queria falar de hoje, porque hoje foi um dia especial. às vezes, parece que a gente precisa viajar o mundo todo para encontrar momentos inesperados como este. o dia de hoje fez valer cada um dos quase 70 dias de viagem que eu já tenho.

e então, como eu ia dizendo, acordei e tomei um café gostoso, contemplei o lindo céu azul e a temperatura amena. peguei o carro e tomei rumo à cortona, aquela do filme, do livro e das histórias, que é realmente encantadora. lá, que fica no alto de uma pirambeira, fui andando, andando, andando, depois subindo, subindo, subindo, subi até onde os turistas nunca vão, acho que nem os moradores costumam ir lá, fui parar no ponto mais alto da cidade de onde era possível ver a toscana inteira e também picos de neve, que são belíssimos. estava sozinho, eu e uma igreja gigante, e foi quase um gozo estúpido que tive naquele momento. depois desci toda a cidade e fiquei por um bom tempo na praça, um dos personagens principais de "sob o sol da toscana", apenas entendendo ou tentando entender o que era viver naquela cidadezinha onde eu com certeza ficaria para sempre. 

de lá, decidi passar no lago trasimento, que é de uma beleza sem fim. fiquei um pouco lá, mas não havia muito o que fazer no inverno e foi então que tomei rumo a san fillipo, graças a uma indicação da carmela, a velhinha que me recebeu lá em san gimignano. cheguei a san fillipo como quem nada quisesse e a cidade estava deserta. dei uma volta, não vi ninguém. dei duas, já estava indo embora, quando vi uma plaquinha "fossa bianca". ah, tá. vou parar! como quem não quisesse nada... e aí fui andando, andando, andando, andei uns 20 minutos, sujei todo o pé de barro, a bota nova, a calça lavada, e depois andei mais um pouco, e fui descendo, e aí passei num riacho, e então de susto me deparei com uma das coisas mais bonitas que já vi na vida. es-pan-to é o nome disso. a cidade é uma terme (é assim que fala?) e tem água quente, resquícios vulcânicos. as formações rochosas com o tempo foram ficando manchadas pela água quente e ficaram brancas. a cachoeira é essa aqui que está na foto, nada perto do encanto que tive em arrepios quando cheguei por lá. tirei a foto do celular, porque a máquina eu tinha esquecido no carro. o que vale é a experiência, todos os sentidos aguçados. e hoje eu não nadei, porque não estava preparado, mas amanhã cedo eu volto lá correndo. hoje só tinha um casal, tomara que amanhã seja apenas eu.

depois disso, ainda em transe e realmente entendendo um pouco do sentido de viajar sozinho e ter encontros comigo mesmo, parei em bagno vignoni, que é mais recalcada e com hoteizinhos mais chiques, mas tem uma bela de uma inusitada piscina natural de água quente na praça central da cidade, linda de morrer... já era quase fim do dia e decidi passar em montalcino antes de voltar à pienza, onde estou hospedado, que é uma mini-vila encantadora. e para fechar o dia mágico, porque havia de ser, já era quase 17h e peguei um pôr do sol cor de infinito, vermelho-caramelo, pra encher os meus olhos de água, como agora estão ao finalizar esse textinho sem revisão. daqui, vou indo ao meu encontro, espero que você também.


(agora estou no laos, em luang prabang, e hoje completo cinco meses de viagem. mas, esse post foi recuperado de novembro passado, quando esse blog sequer pensava em existir e eu tampouco tinha completado três meses de viagem...)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Um mês de Ásia

Hoje é dia 12 de fevereiro. Amanhã é aniversário do Terezo e depois da Juju, ou o contrário. Nunca fui bom com datas, mas sempre os carrego aqui num lugar bem confortável do peito, primos-irmãos mais que queridos. Terezo teve filho outro dia, Pedro, não pude lhe dar as mãos ou um carinho sequer. Com Juju tive encontro recente, parece que foi ontem, mas lá se vão quase cinco meses. Me enche todo de orgulho com o seu francês de francês e aquela sensação do dever cumprido lá do outro lado do oceano. E assim como Juju e Terezo, tantos outros queridos e tantas outras datas têm simplesmente passado. O carnaval vem aí, o Cruzeiro foi campeão, o Galo fez feio no Marrocos, a PM continua uma merda, o Lacerda rima, Mamis e Papis fizeram 32 de casados e eu aqui, ainda na estrada, tão perto e tão longe de quando ainda há de chegar um final.

Hoje, completo um mês aqui na Ásia e lá se vão 140 dias na estrada. Dois continentes, oito países e mais ou menos umas trinta cidades. Hoje, faço um mês de Ásia e nunca me senti tão bem. Não sei como explicar, se é que há explicação pra certas coisas do coração, mas estou diferente de ontem e o amanhã nunca esteve tão distante e próximo e misterioso ao mesmo tempo. Se tivesse que nomear, talvez chamasse transformação. O tempo da Ásia me faz um cara melhor, me faz ver o mundo e as pessoas de outra maneira, com certa dose de simplicidade e a certeza de um dever jamais cumprido. Nos três meses bons que tive na Europa, conheci muitos lugares e poucas pessoas. Talvez pelo inglês ruim, talvez pela aparante timidez que transparecia quando me assentava sozinho ao fundo do restaurante sem que quisesse ser visto, talvez pelo frio ou porque eu precisasse mesmo de algum tempo para refletir sobre qualquer coisa que fosse. Em todas as vezes em que chorei, sorri, sofri ou me amedrontei com o que o destino me reservava, nunca imaginei que um dia fosse parar num lugar tão distante e feliz. Indonésia. Bali. Ubud. Tão longe de casa, tão perto de mim.

Na próxima semana, volto para a Tailândia. Na outra, talvez vá para o Laos. Amigos queridos hão de ser bem-vindos nessa parte do caminho, ou o contrário, porque a invasão nesse caso é minha. O mundo é de todo mundo, todo meu, todo seu, nosso, ou ao menos deveria ser, e essa viagem é tampouco só minha. É dela própria e traz consigo todas as questões que porventura tentei me esquivar no passado, ou num passado não tão distante, o destino conduz as coisas à sua maneira com maestria e tem me proporcionado quantos anjos ou companheiros lhe forem convenientes. E com vigor. Ontem, conheci pessoas. Anteontem, não. Hoje, mais amigos se foram. Amanhã, não sei. Essa é uma das melhores partes: o não saber quase nada. Às vezes, quero escrever, outras vezes não, na maioria do tempo quero simplesmente encontrar um caminho. Não sei se encontrei, mas as minhas escolhas têm me feito um bem danado até agora. E mesmo que eu saiba muito pouco, sei que estou aqui, agora e sinto que preciso ser, e tão somente, e esse tempo impreciso tem me permitido mais leve.

Ontem, fiz aula de culinária balinesa. Fiquei bêbado outro dia e tenho visto muitos vídeos de carnaval. Pena de Pavão de Krishna é o meu preferido. Já conheci templos, arrozais e tomei o café mais caro do mundo, que sai do cocô de um bicho tipo o furão. Estou na minha pousada agora. Decidi ficar em um lugar mais caro por alguns dias, se é que cinquenta reais por um lugar gostoso com ar-condicionado, silêncio, piscina e café da manhã pode ser considerado caro. Aqui, escrevo. Comprei um Buda amarelo e outro vermelho, acho que um pouco do que tenho aprendido tem a ver com isso: à nossa maneira sempre vale mais à pena. Mais coração, menos razão. Tenho tentado segui-lo, mesmo clichê, e me permitido errar no meio do caminho quantas vezes forem necessárias. Hoje, faço um mês de Ásia, mas parece que não. Na próxima semana, cinco meses de viagem. E depois não sei.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sobre o meu amor por Bali (e um pouquinho da saudade que às vezes bate no peito)


E eis que estou cá a pensar novamente: o mundo é muito grande. A cada olhadinha que eu dou no mapa, dessas desastrosas aventuras de Google Maps, vejo que os templos de Borobudur estão a menos de uma hora e talvez nem queira ir, que a Austrália é logo ali, que a China é logo aqui, que o Japão está a duas ou três horinhas de vôo, que o moço acabou de chegar da Mongólia, que a menina estava surfando em Sumatra e se eu quiser dar uma passadinha em Cook Island ou Samoa talvez seja possível, por que não Timor Leste ou Filipinas?, Burma também cairia muito bem. Outra viagem possível, e que não sai dos meus pensamentos, seria ir por terra do norte da Tailândia, via Myanmar e Bangladesh, até o mais escondidinho canto da Índia ou do Butão, com paradinha no Nepal para ver o sol nascer ao pé do Himalaia e fechando o dia orando por qualquer coisa que seja no Tibete. E ainda tem Laos, Camboja e Vietnã, outros dos muitos sonhos que estou prestes a realizar.


E eis que então novamente tudo meio que muda num piscar de olhos: o mundo é pequeno pracaramba e tudo está logo aqui embaixo do nariz. Pois, quando penso que estou do outro lado do planeta - e que ainda assim posso conversar quase que instantaneamente com todos os queridos distantes -, sinto um aperto de urso no peito também, porque muito embora seja possível postar fotos e textinhos livres como esse, conversar e lançar beijos ou piscadinhas marotas, jamais poderia tocá-los ou estender-lhes as mãos a que venham pegar uma praia mais tarde em Padang, passear num elefante no norte da ilha, fazer uma aula de culinária balinesa ou ao menos dividirmos uma boa Bintang em um boteco qualquer.  

Estou com saudades de casa, sim, volta e meia me pego pensando no carnaval. O churrasco que fizeram na semana passada quase me fez desabar de tanta vontade. Mas, quando lembro que o mundo é agora e que esse agora é a minha casa também, ao menos por hora, fecho a mala e sigo sem muito tramar. Estou pensando seriamente em passar alguns dias num Ashram antes que volte pra Tailândia, quero muito tomar uma cerveja com Thiago e Flávia em breve, mas a Indonésia ainda é o meu lugar. Suksma, Bali. Já te amo pra sempre e ainda não chegou nem na metade. 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quando me perguntam sobre a mala

Com rodinha, sem rodinha, mochilão, mochilinha. O que trazer e o que deixar para trás? Antes de vir, gastei muito tempo pensando no peso ideal de uma mala e no que era essencial para uma viagem longa, pesquisei modelos e marcas diferentes, fritei muita gente e depois de um tempo descobri que não tinha muita solução. Liguei o foda-se e decidi ser feliz. Enchi o peito de amor, vim com o mochilão que eu já tinha há alguns anos e trouxe apenas o que achei que devia. Simples assim.

Lá se vão quatro meses e até que tenho sobrevivido. Tive de trocar a mochila e a mochilinha por duas mais novas, pois depois de um tempo as costas doíam tanto que os sonhos já não se sentiam mais tão confortáveis. Já perdi muitas coisas, manchei as camisas que eu mais gostava, desfiz-me de outras, doei roupas de frio, comprei bota de neve, tive dois ou três chapéus diferentes e passei a odiar todos os guias que eu comprei, mas a chavezinha tinha virado e eu já estava por aqui, me abri, permiti que muitos anjos cruzassem o meu caminho e tudo me foi parecendo tão natural que as soluções simplesmente começaram a surgir.

Se a asinha está batendo, tome coragem que é hora de voar. Como mochileiro inexperiente (tsc tsc), sugiro apenas uma mala na medida exata dos seus sonhos, se me permite, pois o resto há de vir. Se der, traga também uma pitada de coragem, jogo de cintura e uma boa dose de humor e paciência, propicie-se um encontro pleno consigo mesmo, com o seu corpo e com o que mundo há de lhe oferecer. Se é tímido, apenas seja e se assuma como tal. É difícil, sofri um bucadinho no começo, mas tudo tem sido muito melhor agora. Libertação. Mas, se do contrário, vá em frente e seja expansivo. Há muita gente legal no caminho. Quem tem de aparecer, vai aparecer, e como é bom apegar-se aos lugares e às pessoas. Eu amo amar e nem de longe sou do tipo que acredita naquela velha máxima do desapego. 

E ainda havendo espaço, que traga meia-dúzia de roupas para não resfriar, um ou dois livros para as horinhas de solidão, um bom rascunho e um lápis para quando te olharem estranho no cantinho do bar e talvez uma lomográfica que te permita registrar os momentos mais gostosos por ângulos mais divertidos. Não se culpe pelas vontades súbitas de acessar o Facebook e que haja, então, um computador sempre por perto pra matar a saudade. Mas, não tendo, não se preocupe. Use e abuse do acaso, de todos ao seu redor, dos querubins e dos serafins, cutuque o coleguinha do lado e tente ao menos lhe dizer um oi, vai lhe fazer bem, um sorriso sempre cai bem, voilá, é preciso sentir, fluir, deixar estar. Há uma espécie de união zelada entre as pessoas que viajam sozinhas que é inexplicável. A mala é só um detalhe.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sobre o dia em que vi o Papa meio que sem querer...

Era oito de dezembro e fazia pouquíssimos dias que o Cruzeiro tinha sido campeão brasileiro, ainda no ano passado, e eu tava andando de bobeira pelas ruas de Roma, tempinho quase chuvoso, coisinha mais ou menos, dei uma passeadinha no parque do lado do hostel, fui numas praças para escrever um pouco, estava indo almoçar quando vi uma multidão e achei até que fosse alguém tipo.... o Papa? E era mesmo! Vinha Francisco, todo bonitinho, pegou no colo a criança que estava do meu lado e foi bem bonito vendo todos à volta emocionados. Quase que eu gritei "vai, Francisco, ajuda o Fluzão dos meus pais que ainda dá tempo!", mas começou a chover e ele voltou para dentro do carro. Polêmicas igrejísticas à parte, foi um momento bem bonito de ver. E viver. Pena que eu não tava com a minha camisa do Fora Lacerda pra entregar pra ele.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Istambul, they call it chaos we call it home

Não pense muito. Simplesmente vá, se jogue e fique o máximo de tempo que puder em Istambul. Julia me acompanhou nesta parte da viagem e tivemos 20 dias inesquecíveis por lá.

Quando tomei o avião em Roma (que custou cerca de 150 euros, com pouquíssima antecedência) já tinha alguma ideia do que iria ver, mas nada perto do que senti. Como Berlim ou São Paulo, não é uma cidade apenas para se ver, é preciso viver um pouco dela para tentar entender. Ainda no aeroporto, experimentamos um tradicional pão turco antes de pegarmos o taksi com um velhinho muito gentil, que nos apresentou um pouco da cidade à sua maneira. Era noite e achei tudo um pouco confuso, mas rapidamente entendi que Istambul se divide mais ou menos em três partes turísticas principais: a Cidade Velha, onde está a maioria dos monumentos, das mesquitas e dos bazares mais famosos (na parte europeia, em Sultanahmet); a região de Galata e Taksim, onde ficam as coisas mais modernas, os bares, os centros culturais e o pessoal mais descolado (ainda na parte europeia); e a área asiática, com destaque para Uskudar e Kadykoy, onde se encontra uma vida turca mais real, se é que isso pode ser dito.

Ficamos hospedados na região de Taksim, em Beyoglu, e acertamos muito bem na escolha. Muito embora as atrações mais tradicionais estejam na Cidade Velha, é em Taksim que o mundo se encontra. Lá estão os melhores restaurantes, as galerias de arte mais legais, um povo mais gentil e acolhedor, além da Istiklal Cd, que é uma espécie de Avenida Paulista deles, onde quase tudo acontece. Istambul é relativamente mais barata que a Europa Ocidental e possui preços muitos semelhantes aos do Brasil. Uma lira turca vale mais ou menos um real e dez centavos, então quase nada é absurdamente caro. Escolhemos ficar em um pequeno apartamento via AirBnb na Eski Çiçekçi Sk e a diária média foi de 45 euros por dia. É possível achar coisa mais barata, se estiver com pouca grana, e existem muitos hotéis confortáveis também. Mas, estávamos a dois minutos da Istiklal e a vinte e cinco minutos a pé da Cidade Velha (onde se pode ir de tram também, em cinco ou dez minutos), e achamos a região ideal para a nossa ausência completa de pretensões. Apesar de ser perto de uma ladeira, estávamos na parte de cima e quase nunca subíamos os belos morros de Beyoglu que, uma hora ou outra, você terá de encarar de qualquer maneira. Anyway, respire fundo e vá na fé. Outra região que nos pareceu muito estratégica é Galata, nas proximidades de Galata Tower que, diga-se, tem uma vista exuberante. Cafés descolados, restaurantes mais em conta e pertinho da ponte que liga Taksim à Cidade Velha. Foi lá que nos deliciamos na loja de lomográficas (com preços bem melhores que no Brasil) e, desde então, carrego comigo os meus mais novos brinquedinhos: uma Mini Diana F+ e uma Fisheye 2.

Fizemos muitas coisas em 20 dias e ficaríamos mais com certeza. Vá no seu tempo, o que é mais importante, e se entregue às delícias que os turcos nos oferecem. Se tiver só cinco dias, vá mesmo assim. Prefiro não sugerir nenhum tipo de roteiro, tampouco uma quantidade ideal de dias, mas deixo aqui algumas impressões sobre o que mais gostei.


Em primeiro lugar, a comida. Que coisa fantástica! Experimente os milhões de kebaps que eles oferecem nas ruas, delicie-se com todos os iogurtes possíveis, arrisque-se ao menos uma vez por dia a comer uma coisa nova e se assente em um dos muitos cafés para tomar um çay ao final da tarde ou ao menos um tradicional café turco em qualquer um dos terraços de Taksim. Os bazares também são um espetáculo à parte. No Gran Bazaar, você encontra tudo o que precisa na vida. Julia se deliciou com os famosos panos turcos a preços muito bons, além de lindos, já eu retomei a minha paixão pelo xadrez – esquecida em algum cantinho da memória – e me esbaldei com tabuleiros e peças absolutamente incríveis. Já no Bazar das Especiarias, vale muito à pena se deixar levar pelos cheiros e pelas cores deliciosas, além de sempre parar para barganhar um pouquinho. Além de muito gentis, os turcos adoram os brasileiros e sabem que somos muito mais cascas grossas do que os europeus ou os americanos. Nunca pague o preço inicial e, mesmo que não compre, barganhar faz parte da cultura e é um bom exercício para aprender algumas palavras novas. Sempre comece com merhaba (me-rrá-ba), que é um modo gentil de se dizer oi. Os turcos, nesse sentido, são geralmente turcos como a gente espera e no melhor sentido da palavra. Topam vender qualquer coisa e você vai encontrar lojas o tempo todo e em todos os lugares. Escolha a que te oferecer o melhor chá e vá em frente.

As Mesquitas também são imperdíveis. Algumas são mais bonitas por fora, outras por dentro, algumas mais charmosas, outras mais imponentes. Leve muitas baterias e memory cards para a sua câmera, você não vai parar de clicar um instante sequer. Eu, particularmente, amei a Mesquita de Suleymaniye e a “Mesquitinha” que fica no meio da praça entre as imperdíveis Hagia Sophia e Mesquita Azul na região de Sultanahmet, na Cidade Velha. Perca algum tempo por ali, não deixe de se arriscar clandestinamente em um momento de prece e maravilhe-se com o som que vem de todas as partes da cidade por volta de 18h15.

Talvez seja apenas uma feliz coincidência, mas em cada esquina de Istambul sempre haverá um Baris à sua espera. O moço que nos alugou o apartamento se chamava Baris – e foi uma espécie de anfitrião muito gentil, o qual recomendo –, bem como o meu tatuador. Sim, me arrisquei em Istambul e realizei um sonho de tempos. Julia também (ela tatuou poema que, em turco, escreve-se çiir e pronuncia-se chí-ir). Nos empolgamos e valeu muito à pena. Se houver algum Baris na rua, provavelmente será nosso amigo também. Vá lá e manda um merhaba que tá tudo certo, certamente ele vai te indicar um bom restaurante.

Não deixe de ir ao lado asiático. Lá, talvez não haja muitos pontos turísticos famosos para se visitar, mas me deliciei naquela parte da cidade. Além de ser mais local – e possuir mais muçulmanos, o que não é lá muito comum na região de Taksim –, tudo é um pouco mais barato, bagunçado e a comida é deliciosa. Você entra em contato com uma Istambul mais real e, de quebra, ainda pisa na Ásia. É lá também que está o estádio do Fenerbahçe. Depois de um tempo, descobri que Istambul é mais ou menos como Beagá. Primeiro, querem saber o time que você torce, para depois gostarem de você. Ou não. Cruzeiro, Atlético e América estão para Fenerbahçe, Galatasaray e Besiktas, respectivamente. Mais tarde, descobri que o meu time na Turquia é o Galatasaray, mas isto é pauta para outro post que está guardadinho aqui na caixa. Contudo, como todo bom cruzeirense, fui atrás da estátua do Alex, que é adorado por todos os turcos do oriente e carinhosamente reverenciado como Buyuk Kaptan Alex de Souza. Na hora de barganhar, lembre-se dele. A não ser que sejam Galatasaray roxos, você terá um bom desconto ou, no mínimo, um papo descontraído. Alex é o meu maior ídolo, dispensa quaisquer comentários e isso me aproximou muito dos turcos. A viagem de ferry em si também é muito agradável, faça ao menos um passeio no Bósforo (que sai um pouco mais caro do que um bate-volta em Uskudar) e se delicie com a paisagem. No fim da tarde, escolha um dos cafés à beira-mar e aprecie a paisagem com vista para Beyoglu, Besiktas e Sultanahmet.

O banho turco é uma experiência diferente. Eu, particularmente, não acho que seja imperdível, mas se você tiver tempo pode ser bastante agradável. Sai por 35 euros e leva aproximadamente uma hora e meia. Achei mais turístico do que bom, assim como o Palácio Topkapi, mas não deixa de ser relaxante. Foi uma das noites em que dormi melhor por lá. Pare na Istiklal para ouvir os músicos de rua. Eles são muito bons e nos arrepiamos com o que encontramos. Quando percebemos, já estávamos dançando no meio da rua junto com um tanto de gente feliz e um canto que vem do coração e sai da garganta em forma de prece. Música que vem da alma. Vá também a um show de música turca (sugestão: Kolektif Istanbul | Música balcânica) e não deixe de ir a um Derwish, uma espécie de rito-dança local. É um pouco caro, mas vale à pena. Se tiver tempo, vá também a uma das muitas cisternas espalhadas pela cidade. Escolhemos a Cisterna da Basílica, que é a mais famosa, e rodamos o dedo no forévis da Medusa, pois dizem que dá sorte. Vai que, né?


O Museu da Inocência é uma experiência muito legal. Tive até vontade de fazer igual ao Sr. Pamuk (vencedor do Nobel de literatura e autor de Museu da Inocência, entre outros), que criou o museu homônimo em referência ao livro. Se tiver o livro, leve-o que não precisa pagar o tíquete e ainda ganha um carimbo do museu de lembrança. Na noite do natal, decidimos cozinhar e foi uma aventura completa. No final, após muita correria atrás de ingredientes, tivemos um bom frango com arroz para matar a saudade da comidinha da mamãe. No réveillon, decidimos ficar perto de casa mesmo e não foi menos incrível. Os turcos não dão tanta bola para a festa, mas todos vão para a rua. Nos embebedamos com algumas cervejas (que são carerérrimas nos bares, tipo 20 reais) e ficamos perdidos pelas ruas de Taksim. Assistir aos fogos em Besiktas e redondezas talvez seja um programa mais certeiro, mas acabou que gostamos bastante da estranheza daquele que passamos a chamar de “nosso bairro”.

Mas, Istambul não é só isso. É isso e muito mais. De guia, sugiro o Lonely Planet específico sobre a cidade (com versão em português, que é de grande valia). Mas, permita-se perder pelas ruas estreitas da cidade porque também é delicioso. Das comidas, como havia dito, gostei muito de todos os kebaps e iogurtes, mas amei também os pães pita, a pide (pizza turca), os bufes malucos com uma espécie de self-service, os espetinhos de mexilhões e os peixes na rua (que eles chamam de fish fish), além dos lahmacuns, dos sucos de romã e de restaurantes como o Gani Gani, onde se come a mais deliciosa comida otomana sentado numa confortável mesinha no chão. Tente um baklava ou um sorvete turco de sobremesa. De quebra, ainda pegamos dois ou três protestos na região onde nos hospedamos. Nada muito agressivo, a não ser por parte da polícia, como sempre. Eu voltaria a Istambul sem pensar duas vezes. Voltaria duas, três, quatro vezes. É uma cultura diferente, um mundo diferente, mas é tudo tão igual e bagunçado quanto no Brasil que me senti em casa o tempo todo.


Teria muitas outras coisas para dizer, é só me convidar para um café dia desses que prometo contar tudo o que vier à memória. Istambul é caótica e, ainda assim, não há como não amá-la. Tente ir a um jogo de futebol e descubra qual é o seu time turco, aprenda ao menos uma palavra nova para contar aos amigos. É uma das cidades que mais gostei na vida e jamais vou esquecer de todos os seus cheiros, das cores, das comidas e de todos os Baris que encontrei pelas ruas. Que cultura linda, que povo lindo, que cidade linda! Melhor ainda se houvesse de caber no bolso com um pouquinho da música que vem de dentro, da comida que cheira vida e da certeza de ser parte de. O mundo é logo ali, they call it chaos we call it home, e agora carrego três partes dele em mim. E para sempre.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Nesse ano, vou de mochila

Amo o carnaval, respiro carnaval, espero pelo carnaval. Sou folião assumido, vou a todos os blocos, mato trabalho só para farrear, já quebrei um pé, esqueci de coisas, conheci muita gente fina, elegante e sincera, fui feliz em quase todos os vinte e nove carnavais que já passaram pela minha vida. Alguns em Minas, outros no Rio, às vezes na rua, às vezes no mar. Mas, nunca fora do Brasil. Nunca longe dos meus amigos. Esta será a primeira vez e pior, talvez dissesse-me o outro, justo no ano em que faço trinta.

Medo? Solidão? Saudade? Inveja de quem vai estar em beagá? Talvez um pouco de tudo. Mas, mesmo assim, decidi ir diferente. Nesse ano, eu vou de mochila. E sabe-se lá o que vai ser dos próximos dias, certo mesmo é que vou estar bem longe do Brasil, quem sabe na Indonésia, na Tailândia ou no Laos, quiçá Camboja ou Vietnã. O meu carnaval é aqui, já está sendo, e existe uma felicidade bem grande lá no cantinho das entranhas que adora berrar ao saber da nova fantasia.

Nesse ano, vamos juntinhos: eu, ela e todas as angústias desses quase trinta, com uma pitadinha dos sonhos, dos novos amigos e das tantas histórias que já tenho para contar. Nada tem pesado tanto, não mais que a vontade de seguir, e mochilar para mim, no final das contas, tem sido tipo carnaval mesmo. Com meia dúzia de roupas, algumas cervejas e um bom sorriso no rosto eu tenho resolvido mais da metade do que preciso para viver. De resto, o que vier é festa.

Obs: e para quem não entendeu nada dessas fotos lindas, é pra já ficar a dica do próximo post, que será sobre Istambul, um dos lugares que mais amei na terra. Na primeira, estou na Mesquita Azul, a segunda é uma "Mesquitinha" charmosíssima colada na Hagia Sophia e a terceira é uma pitadinha do Bazar das Especiarias... "Istanbul. They call it chaos, we call it home".