quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quando me perguntam sobre a mala

Com rodinha, sem rodinha, mochilão, mochilinha. O que trazer e o que deixar para trás? Antes de vir, gastei muito tempo pensando no peso ideal de uma mala e no que era essencial para uma viagem longa, pesquisei modelos e marcas diferentes, fritei muita gente e depois de um tempo descobri que não tinha muita solução. Liguei o foda-se e decidi ser feliz. Enchi o peito de amor, vim com o mochilão que eu já tinha há alguns anos e trouxe apenas o que achei que devia. Simples assim.

Lá se vão quatro meses e até que tenho sobrevivido. Tive de trocar a mochila e a mochilinha por duas mais novas, pois depois de um tempo as costas doíam tanto que os sonhos já não se sentiam mais tão confortáveis. Já perdi muitas coisas, manchei as camisas que eu mais gostava, desfiz-me de outras, doei roupas de frio, comprei bota de neve, tive dois ou três chapéus diferentes e passei a odiar todos os guias que eu comprei, mas a chavezinha tinha virado e eu já estava por aqui, me abri, permiti que muitos anjos cruzassem o meu caminho e tudo me foi parecendo tão natural que as soluções simplesmente começaram a surgir.

Se a asinha está batendo, tome coragem que é hora de voar. Como mochileiro inexperiente (tsc tsc), sugiro apenas uma mala na medida exata dos seus sonhos, se me permite, pois o resto há de vir. Se der, traga também uma pitada de coragem, jogo de cintura e uma boa dose de humor e paciência, propicie-se um encontro pleno consigo mesmo, com o seu corpo e com o que mundo há de lhe oferecer. Se é tímido, apenas seja e se assuma como tal. É difícil, sofri um bucadinho no começo, mas tudo tem sido muito melhor agora. Libertação. Mas, se do contrário, vá em frente e seja expansivo. Há muita gente legal no caminho. Quem tem de aparecer, vai aparecer, e como é bom apegar-se aos lugares e às pessoas. Eu amo amar e nem de longe sou do tipo que acredita naquela velha máxima do desapego. 

E ainda havendo espaço, que traga meia-dúzia de roupas para não resfriar, um ou dois livros para as horinhas de solidão, um bom rascunho e um lápis para quando te olharem estranho no cantinho do bar e talvez uma lomográfica que te permita registrar os momentos mais gostosos por ângulos mais divertidos. Não se culpe pelas vontades súbitas de acessar o Facebook e que haja, então, um computador sempre por perto pra matar a saudade. Mas, não tendo, não se preocupe. Use e abuse do acaso, de todos ao seu redor, dos querubins e dos serafins, cutuque o coleguinha do lado e tente ao menos lhe dizer um oi, vai lhe fazer bem, um sorriso sempre cai bem, voilá, é preciso sentir, fluir, deixar estar. Há uma espécie de união zelada entre as pessoas que viajam sozinhas que é inexplicável. A mala é só um detalhe.

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