estou na toscana há uns 20 dias e
já passei por florença, siena, cinque terre (que não é bem na toscana, mas é do
ladinho), pisa, lucca, san gimignano, montepulciano, região de chianti,
monteriggioni, cole di val d'elsa, rapolano terme,
aciano e sei lá mais quantos lugares. mas, hoje foi um dia especial.
primeiro, porque a semana inteira fez um frio do cacete, na madrugada bateu -3°C e durante os dias a máxima foi de 2°C. hoje fez 6°C e daí já era alegria pura usar uma blusa a menos. acordei e o dia estava lindo, nenhuma nuvem no céu. tomei o café da manhã lentamente, aproveitando que nos últimos 15 dias tenho sido o único hóspede em qualquer lugar que passo. além de novembro ser o mês mais chuvoso na itália, é a época mais fria na toscana e todos fogem daqui. eu não. além de mineiro que topa praia no inverno, sou viajante daqueles destemidos e que sempre leva ao pé da letra uma frase aprendida outro dia: "já que lá tá, deixe que lá teje". cortesia da julia branco. e então topei encarar a toscana abandonada, andar em meio às belíssimas cidadezinhas medievais praticamente desertas, batalhar para arrumar um lugar aberto para comer, fugir dos programas de casais e do comércio exagerado de vinhos, arrumar outros seres vivos na rua depois das 19h para tentar conversar, a única coisa que talvez não tenha sido possível.
e aí, como todo bom mineiro e taurino com
ascendente em virgem, deveras precavido, terra, pé no chão, vim todo preparado
para o frio e a solidão, mas acabei dando um pouquinho de sorte também. chuva mesmo, só há um tempo atrás lá em florença e
em cinque terre, depois só sol. em siena, cidade incrível, tomei coragem
e aluguei um carro... pedi um cinquencento, sonho antigo de consumo, mas alguém
bateu o carro um dia antes e aí tive de me contentar com o panda,
que é igualzinho ao "novo uno" do brasil. ôh tris-te-za! liguei o
foda-se, não é charmoso como a toscana, tem mais cara de bologna, mas me
levaria aonde eu quisesse e no meu tempo, o que era mais importante. e já em
poucos metros de saída da cidade, fiquei completamente apaixonado por cada
cantinho das estradas, exatamente como eu já tinha visto em filmes, matérias,
fotografias de amigos e etc. é lindo de morrer. fui visitando
várias cidades, parando sempre para respirar, para contemplar o nada, escrever
um pouquinho no ritmo lento da toscana. e assim estou desde segunda-feira, eu e
o meu carrinho.
teria
muitas outras coisas para contar, como o casal de velhinhos que me recebeu num
hotel-fazenda ao lado de san gimignano, mas eu queria falar de hoje, porque
hoje foi um dia especial. às vezes, parece que a gente precisa viajar o mundo
todo para encontrar momentos inesperados como este. o dia de hoje fez valer
cada um dos quase 70 dias de viagem que eu já tenho.
e
então, como eu ia dizendo, acordei e tomei um café gostoso, contemplei o lindo
céu azul e a temperatura amena. peguei o carro e tomei rumo à cortona, aquela
do filme, do livro e das histórias, que é realmente encantadora. lá, que fica
no alto de uma pirambeira, fui andando, andando, andando, depois subindo,
subindo, subindo, subi até onde os turistas nunca vão, acho que nem os
moradores costumam ir lá, fui parar no ponto mais alto da cidade de onde era
possível ver a toscana inteira e também picos de neve, que são belíssimos.
estava sozinho, eu e uma igreja gigante, e foi quase um gozo estúpido que tive
naquele momento. depois desci toda a cidade e fiquei por um bom tempo na praça,
um dos personagens principais de "sob o sol da toscana", apenas
entendendo ou tentando entender o que era viver naquela cidadezinha onde eu com
certeza ficaria para sempre.
de lá, decidi passar no lago trasimento, que é de
uma beleza sem fim. fiquei um pouco lá, mas não havia muito o que fazer
no inverno e foi então que tomei rumo a san fillipo, graças a uma indicação da
carmela, a velhinha que me recebeu lá em san gimignano. cheguei a san fillipo
como quem nada quisesse e a cidade estava deserta. dei uma volta, não vi
ninguém. dei duas, já estava indo embora, quando vi uma plaquinha "fossa
bianca". ah, tá. vou parar! como quem não quisesse nada... e aí fui
andando, andando, andando, andei uns 20 minutos, sujei todo o pé de barro, a
bota nova, a calça lavada, e depois andei mais um pouco, e fui descendo, e aí
passei num riacho, e então de susto me deparei com uma das coisas mais bonitas
que já vi na vida. es-pan-to é o nome disso. a cidade é uma terme (é assim que fala?) e tem água
quente, resquícios vulcânicos. as formações rochosas com o tempo foram ficando
manchadas pela água quente e ficaram brancas. a cachoeira é essa aqui que está
na foto, nada perto do encanto que tive em arrepios quando cheguei por lá.
tirei a foto do celular, porque a máquina eu tinha esquecido no carro. o que
vale é a experiência, todos os sentidos aguçados. e hoje eu não nadei, porque
não estava preparado, mas amanhã cedo eu volto lá correndo. hoje só tinha um
casal, tomara que amanhã seja apenas eu.
depois disso, ainda em transe e realmente
entendendo um pouco do sentido de viajar sozinho e ter encontros comigo mesmo,
parei em bagno vignoni, que é mais recalcada e com hoteizinhos mais chiques,
mas tem uma bela de uma inusitada piscina natural de água quente na praça
central da cidade, linda de morrer... já era quase fim do dia e decidi passar
em montalcino antes de voltar à pienza, onde estou hospedado, que é uma
mini-vila encantadora. e para fechar o dia mágico, porque havia de ser, já era
quase 17h e peguei um pôr do sol cor de infinito, vermelho-caramelo, pra encher
os meus olhos de água, como agora estão ao finalizar esse textinho sem revisão. daqui, vou indo ao meu encontro, espero que você também.
(agora estou no laos, em luang prabang, e hoje completo cinco meses de viagem. mas, esse post foi recuperado de novembro passado, quando esse blog sequer pensava em existir e eu tampouco tinha completado três meses de viagem...)
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