quarta-feira, 19 de março de 2014

Um elefante, alguns monges descontraídos, um pôr-do-sol vermelho e uma nova história de amor para sempre

Cheguei ao Laos como não se costuma chegar. Fui de avião partindo de Chiang Mai, no norte da Tailândia, passagem um pouco cara para os padrões locais. Dizem que de barco é mais legal e muito mais barato, mas queria acompanhar Thiago e Flávia (do Depois da próxima viagem), que havia encontrado poucos dias antes, e matar um pouquinho da saudade do Brasil e dos amigos. Cheguei ao Laos sem muito planejar, aterrissei em Luang Prabang sem saber quanto tempo queria ficar, cheguei de peito aberto e completamente despreparado para o acaso e logo na chegada fui recebido com um Sabaidee, a palavra mais bonita que já ouvi na vida, e dali em diante foi um sorriso só.

Acho estranho que a maioria dos turistas que se arrisca por essas bandas praticamente ignora o Laos, restringindo-se à Tailândia e à Angkor Wat no Camboja, às vezes Vietnã, mas quase nunca o Laos (e o Myanmar, um dos meus próximos destinos). Não sabem o que estão perdendo, porque o mundo é logo aqui. Thiago e Flávia ficaram apenas três noites, tempo suficiente para desbravarmos o Night Market, um grande espetáculo de cores, sabores e sorrisos, onde eu gastaria algumas horinhas quase todos os dias, um belo menu degustação no Tamarind Restaurant, uma visitinha à Kuang Si, uma linda cachoeira de água azul e gelada, o primeiro contato com a ronda das almas, que acontece todos os dias entre cinco e sete da manhã, com a população e os turistas ofertando comida aos monges, em sua maioria descontraídos e sorridentes, visitamos o Grand Palace, que contém um museu legal e otras cositas más, subimos no templo mais alto da cidade, de onde pode-se ver o encontro dos rios e um overview da cidade depois da subida dos quase 400 degraus, fizemos massagem nos pés no final da rua principal, demos uma passadinha no Utopia, um dos bares mais legais de toda a viagem, e experimentamos uma espécie de mix de churrasco local com fondue no Lao Lao Garden. Foram dias muito bons e intensos, mas os dois estavam de partida para Hanói e logo eu já estava sozinho novamente.

Troquei de hotel e não gostei muito do que encontrei. Fiquei mais ou menos dois dias vagando entre cafés e padarias deliciosos, resquícios da colonização francesa, quando decidi passar uma tarde apenas escrevendo na Joma Bakery, que contém um dos melhores Lao Coffees de Luang Prabang, e ouvi um casal conversando em português. Mesmo um pouco tímido, o que ainda me atrapalha em algumas partes da viagem, puxei conversa e rapidamente me apaixonei por Elohim e Renata. Sabe aquele entrosamento natural em tom de prosa leve e que flui doce a caminho da amizade que se anuncia? Foi assim. Além de muito gentis, não ligaram para o fato de estarem em lua de mel (ou pelo menos não me contaram!), presente-delícia de seus amigos paulistas e paranaenses, e ficamos conversando por horas e horas e horas, e depois decidimos ir juntos à Kuang Si, onde dessa vez pulei de uma árvore e foi delicioso. E assim, naturalmente decidimos fazer um passeio de elefante no dia seguinte. No começo, fiquei um pouco sem graça, porque afinal né?, lua de mel é lua de mel. Mas, os caras são tão camaradas, descolados, descontraídos e legais que logo já tínhamos nos esquecido daquele simples detalhe. O passeio de elefante foi um dos momentos mais importantes da viagem, contei aqui outro dia, e além de nós havia um casal holandês muito legal que mais tarde encontraria em Vang Vieng, outra cidade mais ao sul do Laos onde fiz o Tubing, visitei a lagoa azul e conheci os queridíssimos Ahmet (do Sudão) e Mark (da Espanha Catalunha, que tirou essa belíssima foto e nos prometemos encontrar logo mais em Barcelona).

Elohim e Renata me indicaram a pousada que estavam – Philaylack Guest House, que também indico – e logo me instalei em um quarto com ar-condicionado por 16 dólares. Como viajo sozinho, sempre acabo pagando um pouco mais caro que todo mundo, mas não tenho aberto mão do conforto. Os quase seis meses de viagem às vezes pesam, visse? Nem me importo mais. Depois de um belo banho com o elefante, visitamos um templo-caverna muito interessante do lado de lá do Mekong e depois uma vila que fabrica whisky a partir do arroz, que não achamos muito legal. No dia seguinte, eles resolveram andar de moto e foi aí que tomei coragem, após quase um mês na Ásia, de me arriscar pela primeira vez numa magrela. Sim, eu estava morrendo de medo, mesmo automática e muito fácil de guiar, e Elohim não pensou muito antes de me encorajar. Foi um desafio e tanto. Quando vi, já estava passando por rodovias, estradas de terra e pontes de bambu, algumas paradinhas para pedir informação, capacete que voou na estrada e até pilotei à noite depois de uma cerveja ou outra na beira do rio. Ficamos surpresos com a visita no Ock Pop Tok, uma associação que incentiva as artesãs locais e que possui um belíssimo café à beira do Mekong, fomos presenteados pelo canto dos monges às quatro da tarde em um dos templos mais lindos e calmos da cidade e, ao final do dia, depois de um delicioso papo com um dos monges mais descolados, descobrimos um boteco na junção do Mekong com o Nam Khan e tivemos o pôr-do-sol mais inesquecível da vida ao silêncio brado dos barcos que cruzavam o rio ao anoitecer.

Em Luang Prabang, comprei um dicionário local, escrevi um bucado, comi peixe na brasa e muita comida local, quase não bebi e fiz novos e bons amigos. No último dia, conheci ainda Ludmy e Átila, do Vou Contigo, que estão me esperando na Índia para o próximo mês disso que já não sei se chamo mais por viagem. No Laos, ainda existe o toque de recolher à meia-noite, por mais que alguns turistas ainda consigam driblar as regras e ir parar num boliche em plena madrugada. Eu não precisei, pois o ritmo lento de se apenas existir naquele lugar já me bastava. Foi muito amor à primeira vista, à segunda, à terceira, teria muitas outras tantas dicas e coisas para falar, mas prefiro fazer pessoalmente no próximo boteco. Foram quase vinte dias inesquecíveis naquela terrinha que já não tem mais os milhões de elefantes de outrora, mas que nutre muita hospitalidade, alegria à base de sorriso e a simplicidade de um povo autêntico e amável que só. Entrei aprendendo Sabaidee e saí dizendo obrigado pra todo mundo e ei de voltar muito em breve. Khop Chai Lai Lai, Laos! Você agora é parte de mim.

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