Cheguei ao Laos como não se
costuma chegar. Fui de avião partindo de Chiang Mai, no norte da Tailândia, passagem
um pouco cara para os padrões locais. Dizem que de barco é mais legal e muito
mais barato, mas queria acompanhar Thiago e Flávia (do Depois da próxima viagem), que havia encontrado poucos dias antes, e matar um
pouquinho da saudade do Brasil e dos amigos. Cheguei ao Laos sem muito planejar,
aterrissei em Luang Prabang sem saber quanto tempo queria ficar, cheguei de
peito aberto e completamente despreparado para o acaso e logo na chegada fui
recebido com um Sabaidee, a palavra mais bonita que já ouvi na vida, e dali em
diante foi um sorriso só.
Acho estranho que a maioria dos
turistas que se arrisca por essas bandas praticamente ignora o Laos,
restringindo-se à Tailândia e à Angkor Wat no Camboja, às vezes Vietnã, mas
quase nunca o Laos (e o Myanmar, um dos meus próximos destinos). Não sabem o
que estão perdendo, porque o mundo é logo aqui. Thiago e Flávia ficaram apenas
três noites, tempo suficiente para desbravarmos o Night Market, um grande
espetáculo de cores, sabores e sorrisos, onde eu gastaria algumas horinhas quase
todos os dias, um belo menu degustação no Tamarind Restaurant, uma visitinha à
Kuang Si, uma linda cachoeira de água azul e gelada, o primeiro contato com a
ronda das almas, que acontece todos os dias entre cinco e sete da manhã, com a
população e os turistas ofertando comida aos monges, em sua maioria descontraídos
e sorridentes, visitamos o Grand Palace, que contém um museu legal e otras cositas
más, subimos no templo mais alto da cidade, de onde pode-se ver o encontro dos
rios e um overview da cidade depois da subida dos quase 400 degraus, fizemos
massagem nos pés no final da rua principal, demos uma passadinha no Utopia, um
dos bares mais legais de toda a viagem, e experimentamos uma espécie de mix de churrasco
local com fondue no Lao Lao Garden. Foram dias muito bons e intensos, mas os
dois estavam de partida para Hanói e logo eu já estava sozinho novamente.
Elohim e Renata me indicaram a pousada que estavam – Philaylack Guest House, que também indico – e logo me instalei em um quarto com ar-condicionado por 16 dólares. Como viajo sozinho, sempre acabo pagando um pouco mais caro que todo mundo, mas não tenho aberto mão do conforto. Os quase seis meses de viagem às vezes pesam, visse? Nem me importo mais. Depois de um belo banho com o elefante, visitamos um templo-caverna muito interessante do lado de lá do Mekong e depois uma vila que fabrica whisky a partir do arroz, que não achamos muito legal. No dia seguinte, eles resolveram andar de moto e foi aí que tomei coragem, após quase um mês na Ásia, de me arriscar pela primeira vez numa magrela. Sim, eu estava morrendo de medo, mesmo automática e muito fácil de guiar, e Elohim não pensou muito antes de me encorajar. Foi um desafio e tanto. Quando vi, já estava passando por rodovias, estradas de terra e pontes de bambu, algumas paradinhas para pedir informação, capacete que voou na estrada e até pilotei à noite depois de uma cerveja ou outra na beira do rio. Ficamos surpresos com a visita no Ock Pop Tok, uma associação que incentiva as artesãs locais e que possui um belíssimo café à beira do Mekong, fomos presenteados pelo canto dos monges às quatro da tarde em um dos templos mais lindos e calmos da cidade e, ao final do dia, depois de um delicioso papo com um dos monges mais descolados, descobrimos um boteco na junção do Mekong com o Nam Khan e tivemos o pôr-do-sol mais inesquecível da vida ao silêncio brado dos barcos que cruzavam o rio ao anoitecer.
Em Luang Prabang, comprei um dicionário local, escrevi um bucado, comi peixe na brasa e muita comida local, quase não bebi e fiz novos e bons amigos. No último dia, conheci ainda Ludmy e Átila, do Vou Contigo, que estão me esperando na Índia para o próximo mês disso que já não sei se chamo mais por viagem. No Laos, ainda existe o toque de recolher à meia-noite, por mais que alguns turistas ainda consigam driblar as regras e ir parar num boliche em plena madrugada. Eu não precisei, pois o ritmo lento de se apenas existir naquele lugar já me bastava. Foi muito amor à primeira vista, à segunda, à terceira, teria muitas outras tantas dicas e coisas para falar, mas prefiro fazer pessoalmente no próximo boteco. Foram quase vinte dias inesquecíveis naquela terrinha que já não tem mais os milhões de elefantes de outrora, mas que nutre muita hospitalidade, alegria à base de sorriso e a simplicidade de um povo autêntico e amável que só. Entrei aprendendo Sabaidee e saí dizendo obrigado pra todo mundo e ei de voltar muito em breve. Khop Chai Lai Lai, Laos! Você agora é parte de mim.
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